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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

DIZEM QUE A VIDA COMEÇA AOS 50


Armando Mercadante

Sou um cinqüentão em plena andropausa vivenciando as conseqüências provocadas pela diminuição da produção hormonal. A linha do passado está ficando cada dia mais comprida e a do futuro diminuindo. É uma dura constatação. Quando converso com um colega e recordamos fatos da infância levo um tremendo susto: mas isso aconteceu há 40 anos atrás! Dá até um calafrio. O Armando de ontem transformou-se no Sr. Armando de hoje. Só me resta imitar a raposa na fábula de La Fontaine. Segunda a fábula, como a raposa não conseguia alcançar as uvas na parreira racionalizou dizendo:- Não tem importância. Elas estão verdes.

Os psicólogos definem o comportamento da raposa como racionalização. Mecanismo de defesa onde a pessoa procura enganar a si mesma, encontrando justificativas intelectuais para uma situação que é vivida com certa intensidade emocional. Sua função é reduzir a ansiedade. Danem-se os psicólogos e viva a raposa! Somos apenas jovens com os cabelos grisalhos que transformamos nossas recordações em artigos na MM. Qualquer dia entraremos na “melhor idade”, ou melhor, terceira idade. Essa história de melhor idade me parece “raposice aguda”. Vivam os psicólogos e fora com a raposa!

Um determinado autor, que graças a Deus esqueci o nome, afirmou impiedosamente que sentir saudades do passado é um dos sintomas de que estamos envelhecendo. Como não sentir saudades do passado? Como não ouvir Only You com The Platters e não lembrar com emoção dos tempos da brilhantina? Dos Anos Dourados? E as recordações transformadas em artigos na MM? Se o autor estiver certo alguns escritores marmorristas já estão “prá-lá-de-bagdá”, com direito ao pé-na-cova, expressão utilizada pelos ferroviários na época de ouro da ferrovia. Quer dizer que sentir saudades da Maria Fumaça e do barulho do trem é sinal de envelhecimento? Então, estou prá lá de velho!

O nosso marmorrista Zuca (Quebinha) está com o telhado todo branco. Parece até negativo de retrato. (Zuca: temos agora dois negativos de retrato em Recreio). O meu telhado já está grisalho. Em 2008 ficarei Sex. As barbas do Pedro lembram o Moisés dos dez mandamentos. O Aníbal já está com as telhas um tanto quanto danificadas. Já o telhado do John parece imagem do bombardeio no Iraque. Vou arriscar uma afirmação que vai dar o que falar: MM surgiu como conseqüência da andropausa dos seus criadores. Essa história de criar um espaço para o recreiense publicar suas criações literárias é conversa prá boi dormir. Se alguém duvidar é só perguntar para o Dr. Freud.

Poder envelhecer com dignidade é um direito do ser humano que precisa ser garantido pelo Estado. Os avanços da Geriatria e da Gerontologia estão contribuindo para uma nova visão da velhice. A população idosa está aumentando significativamente. O impacto desse fenômeno demográfico no planejamento das cidades e nos cofres da previdência é profundo. Temos que romper com a visão equivocada e preconceituosa da velhice como idade da estagnação, da improdutividade, do sucateamento do ser humano. O leitor pode (deve) acreditar: a velhice é a melhor idade! Viva a raposa e abaixo os psicólogos!

“Até pouco tempo, o único critério para medir o sucesso ou fracasso dos cuidados da vida era sua duração. Em seguida, tomou-se consciência de que a longevidade adquirida não devia ser reduzida a uma simples sobrevivência biológica, mas, que uma vida mais longa nem sempre significa uma vida melhor e que não é suficiente alcançar uma meta cronológica do corpo para vencer a morte física, se ocorrer aquela psíquica. O objetivo a ser colocado deve ser uma meta ligada não só a quantidade numérica de anos, mas também à qualidade de vida, de tal maneira a tornar o envelhecimento desejável. Somente nos últimos anos, conseguindo-se dar mais anos à vida, entendeu-se a importância de se acrescentar vida aos anos”.

“A velhice tem que ser pensada como uma perspectiva de totalidade sócio- biológica, mais do que só um fato biológico. A velhice é um fenômeno com várias dimensões e complexidade, incluindo fatores políticos, sociais, econômicos e culturais. A capacidade de produzir, a questão econômica, costuma-se sobrepor todas as demais fazendo, inclusive, com que a valorização da vida humana se faça à partir de critérios meramente materiais. A pessoa humana atualmente só é importante enquanto integrada ao sistema produtivo e contribuindo para a expansão do capital. Um sistema de vida cruel e mutilador: um sistema que não oferece á imensa maioria de seus componentes o menor incentivo para viver. Que antecipa a morte das pessoas que envelhecem”.

“O que vale na vida é a vida interior, são os pensamentos, são as sensações, são as esperanças e não é privilégio da velhice. Morre-se em qualquer idade".

A vida é o corpo em movimento. Mesmo lento, no corpo do idoso não deixam de perpassá-lo por desejos, por sonhos, por fantasias, por possibilidades de viver bem. "A velhice necessariamente não precisa impedir que a pessoa faça tudo o que sempre fez; o que importa é a qualidade do que é feito e como se faz”.

“Com estas preocupações admitimos que temos que sonhar para vislumbrar outra realidade mais promissora. Sonhos estes que devem ser percebidos no íntimo de diferentes pessoas, instituições, donos do poder , pois todos poderão". passar por isto. Sonhos que possam ser traduzidos em ações, por todos aqueles que acreditam na velhice como mais outra fase realizadora na vida. Isso não custa tanto assim, é só começar cada um fazendo a sua parte.

Para tanto, o ciclo da vida não deve mais prever uma infância dominada pela dependência, uma idade juvenil e adulta onerada pelo trabalho e uma velhice interminável e inútil, mas, sim uma longa idade livre, sempre digna de ser vivida e com a possibilidade de dedicar-se também a objetivos sociais e espirituais num postura de constante aprendizagem”. (Mercadante, Lenira R.P. Monografia de conclusão do Curso de Psicologia).

Em tempo: ler MM só com uma lupa.



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