Durango Kid
Alan Roky Lane
Segunda metade dos anos cinqüenta e início dos sessenta. Época de ouro do cinema
Nada mais emocionante do que uma luta entre o mocinho e o bandido. O cinema quase explodia. Batíamos com os pés no chão, assobiávamos e gritávamos desesperadamente. O mesmo acontecia quando o mocinho estava em poder dos bandidos amarrado numa cadeira e vinha chegando o xerife com seus companheiros para libertá-lo. Era uma emoção simplesmente indescritível. O cinema quase explodia.
Não gostava do Hopalong Cassid. Já Rocky Lane era duro na queda. Roy Rogers gostava mesmo era de cantar. Nunca entendi o porquê do título Rei dos Cowboys. Gostava mesmo era de cantar. Já o temível John Wayne triturava os adversários. Durango Kid era sensacional. Aldie Murphy (êta baixinho invocado) brigava magistralmente.
Das matinês saia nossa inspiração para a criação das quadrilhas. Tinha a quadrilha do alto da Igreja, da Rua Aragão, do Botafogo, da Campo Limpo e outros locais que não me lembro agora. O confronto entre duas quadrilhas era uma guerra ferrenha: pedradas, socos, tapas, arremessos com tiradeiras. O objetivo era sempre capturar o chefe da quadrilha. Na quadrilha do alto da Igreja a “chefa” era a Lereta (Denise Dutra). Boa de briga. A molecada tremia. Já pensou apanhar de menina!!!!!!!!?????
Cada quadrilha dominava seu território. Quando descobria algum intruso de outra quadrilha transitando em seu território a coisa ficava feia.
Um dia fui capturado pelo Reinaldo e Jorge Loçasso. Cismaram que eu era espião. Amarram minhas mãos e prepararam uma forca na parreira do quintal. Quando já estava nas pontas dos pés e o ar faltando, eis que chega dona Vanda que imediatamente exerceu com maestria sua autoridade materna libertando-me do enforcamento. Reinaldo e Jorge levaram uma bronca.
Minha quadrilha reunia-se atrás da Igreja Cristã. Lá traçávamos nossos planos e estratégias. Quando Dona Noemia chegava para limpar a Igreja a reunião encerrava. Era cebo nas canelas!
Certa vez o Robert Cunha (Dindinho), meu primo, vestiu-se de zorro e ousou penetrar no território do alto da Igreja. Foi uma perseguição digna de um faroeste dos tempos do Cine Sonho de Criança. Se não fosse a interferência de alguns pais o nosso zorro estaria fulminado! A turma da Lereta já tinha feito o cerco.
Bons tempos! Cinema, brincar de pique na rua, jogar as famosas peladas, precipício (proibido pela polícia), bilosca (bola de gude) e botão. Na Quarta-feira de cinzas, dormíamos mais cedo, de preferência na cama da mamãe, com medo da mula-sem-cabeça e do lobisomem. E o pior era que o Sr. Casa Nova morava na minha rua. Diziam que ele virava lobisomem.
Lembro-me com muita saudade do mês de maio. Mês das coroações. Nossa banda de música encantando-nos com seus dobrados. Fogos de artifícios explodindo nos céus. O frio, o cheiro de pólvora e do incenso que saía da igreja completava o cenário encantado onde transcorria nossa infância.
As Histórias do Tio Janjão, década de 50, programa infantil exibido pela Rádio Nacional duas vezes na semana às 17h30min horas, fazia um tremendo sucesso. Tio Janjão era interpretado pelo rádio-ator Alvaro Aguiar, conhecido galã. No cinema trabalhou nos filmes “Vidas solitárias”, “Asas do Brasil”, "O homem que passa”,” A inconveniência de ser esposa”, “O noivo de minha mulher”, "O dominó negro” e “Brumas da vida”. No teatro trabalhou com Bibi Ferreira na peça “Os amores de Sinhazinha”. Histórias do Tio Janjão foi apresentado primeiramente às Quartas-feiras, com apenas 15 minutos no horário da manhã. Na décima apresentação, eram tantos os pedidos, chegaram tantas cartas que a Direção Geral resolveu apresentá-lo duas vezes por semana. Quem não se lembra das estórias OS BRINQUEDOS ESQUECIDOS, O PORQUINHO FLAUTISTA, O RATINHO POETA E O MACACO QUE FOI REI POR UM DIA?
Recordo-me com saudades do Pé-Trocado, o nosso querido Tinuca. O apelido foi conseqüência de calçar os sapatos novos trocando os pés. Certa feita foi amarrado num poste da subida do morro da Igreja Cristã depois de levar uma surra da quadrilha da Aragão. Pé-Trocado ficou famoso ao cantar num programa de calouros num parque de diversões um grande sucesso do Miltinho: “Foi assim que a lâmpida apagou. E a vista escureceu(...)”.
Naquela época os valentões exigiam um lugar nas peladas ou então davam uma bicuda na bola. Dar uma bicuda na nossa bola era humilhante demais. Joirinho, irmão do Renan, constantemente exigia um lugar nas nossas peladas no campinho da Rua Campo Limpo. Ou então, bicuda na bola. Como era bom de briga, o jeito era deixá-lo jogar. Até que, para nossa alegria, Pé-Trocado deu-lhe uma tremenda surra. Virou nosso herói. Nunca mais o Joirinho apareceu por lá para exigir um lugar nas peladas.
O cinema fazia parte da nossa vida. E como fazia!
Nenhum comentário:
Postar um comentário