de Recreio
recentemente descaracterizado pela
Vale do Rio Doce
Armando Sérgio Mercadante
“Desapareceu isso que antigamente permitia que se dissesse minha cidade, meu bairro? Homem de lugar nenhum serei alguém para mim mesmo?”
(AUZELE)
Podemos pensar nossa cidade com o coração onde locais, construções e acontecimentos possuem um valor sentimental. Podemos pensá-la também sob a ótica do urbanismo, que hoje em decorrência dos problemas enfrentados pelas grandes cidades ganha grande importância no cenário científico.
Temos que partir do postulado básico de que o homem precisa sentir-se bem em sua cidade. Não estou enfocando apenas a questão social como pobreza, desemprego e outras mazelas que engordam as estatísticas dos indicadores sociais de um país ou uma cidade e, confirmam a visão freudiana da impossibilidade da civilização. O meu enfoque principal é sobre os problemas urbanos que um prefeito de uma pequena cidade como Recreio pode resolver utilizando o pouco recurso disponível.
Robert AUZELE classifica os espaços urbanos da seguinte maneira: a) Espaços de –pressivos: os tristes, sujos, desertos, porque talvez a sua exploração não interessasse tanto aos seus possuidores; b) Espaços agressivos: caracterizados por ruas estreitas demais para uma multidão que necessita caminhar, ruas equipadas por um vasto aparelho de propaganda que agride os sentidos de várias maneiras, com anúncios luminosos alto-falantes e discos que as discotecas divulgam no maior volume. São os espaços também mais amplos onde os pedestres correm da agressão dos automóveis; c) Espaços de- preciativos: aqueles que se contrapõem ao valorativos, ou seja, enquanto habitar certo lugar confere prestígio, o mesmo não acontece com tantos outros que depreciam socialmente os seus moradores.
É bem verdade, que a classificação acima se aplica mais às grandes cidades. No entanto, podemos, por analogia, tirar boas lições e embasamento para uma ação responsável e planejada para uma cidade como Recreio.
Sabemos que o hábito de passear no jardim e na antiga rua do cinema deixou de existir
O que percebo na minha terra é uma sensação de orfandade, talvez por falta dos líderes que outrora promoviam festas, eventos culturais e esportivos. O vazio deixado por essas pessoas ainda não foi preenchido. Esta é uma convicção que carrego dentro de mim e que me angustia.
Em 1968 Recreio experimentou um período rico em atividades culturais: festival da canção, da poesia, semana da família, semana das profissões, encontro de educadores, exposição de artesanato local, dentre outras. É só consultar exemplares do JR dessa época que os fatos estão lá.
Sabemos que são as idéias que movem o mundo. E idéias surgem de pessoas. Pequeri, cidade mineira do porte da nossa, tem o Festival da Canção que faz parte da agenda cultural das minas gerais.
Vi as réplicas do Rodin e experimentei um momento de felicidade. Quero outros. Quero a Banda de Música “cantando coisas de amor” nas ruas de Recreio. O nosso Coral dando seus recitais e, na época do Natal, entoando canções natalinas pelos principais pontos da cidade como acontece aqui em Juiz de Fora. Quero ver no palco da Associação Comercial ou no Centro Cultural, nosso grupo teatral esbanjando interpretação e o nosso grupo de danças fazendo sua exibição para a alegria da nossa gente.
Uma cidade com ruas limpas, arborizadas, praças bem cuidadas e planejadas dentro das normas técnicas do urbanismo humanístico, saneamento básico, calçadas conservadas tornam a cidade do homem um lugar gostoso e habitável.
Em algumas calçadas de Recreio ainda existem inscrições no piso que identificavam as casas comerciais: Casa Carcacena, Casa Nadinho, Bar Horiente, Padaria Recreio, Cartóri (o “o” já desapareceu), dentre outras. São inscrições que o tempo não pode apagar e nem serem substituídas por um piso novo. A História tem que ser preservada. Vai aqui uma sugestão para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura: precisamos preservar o patrimônio histórico da nossa cidade.
Um dia escrevi que Nosso Senhor do Bonfim não conhece Recreio. Quando estava apreciando as réplicas das esculturas do Rodin vi um vulto parecido com ele ao lado das obras. Acho que finalmente ele acolheu Recreio em seus braços. Pelo amor de Deus, não me digam que foi ilusão de ótica!
No dia 29 de julho passado Deus chamou minha Tia e Madrinha Arlete. Tia Arlete sempre me recebia com alegria e um sorriso cativante que guardarei com muito carinho e saudade dentro do meu coração.
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