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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

PLACA  NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

sábado, 6 de outubro de 2007

OS FESTEJOS DE MAIO E JUNHO



Armando Sérgio Mercadante

Na fotografia da esquerda Maria Fernanda Peres Mercadante(anjinho da esquerda) na procissão dos Anjinhos para coroar Nossa Senhora. Na de baixo momentos da cerimônia da coroação na Matriz Jesus Menino Deus de Recreio em 1987. Do lado direito da Maria Fernanda sua prima Angeliana Peres Loureiro.
A procissão saía da casa da Dona Rosa Vieira, na rua da Carcacena, em direção a Matriz Jesus Menino Deus ao som da Banda de Música, dos fogos de artifícios e dos cantos religiosos entoados pelos fiéis. Os anjos com suas asas - simbolizando os querubins, arcanjos e serafins – destacavam-se na procissão. Pe. Celso Campos Sales aguardava a chegada dos fiéis para o grande momento da coroação que acontecia após a missa. Os anjos e virgens se posicionavam no altar. Quando o anjo coroava Maria, os sinos da igreja repicavam, a banda tocava, os foguetes explodiam nos céus e uma chuva de pétalas de rosas caía sobre a santa. A igreja era só emoção. Terminada a cerimônia, acontecia a tão esperada distribuição das sacolinhas recheadas de docinhos. Alguns anjos distribuíam também santinhos como lembrança da sua primeira coroação.

Faziam parte dos festejos de maio e junho o desafiador pau-de-sebo e as barraquinhas armadas nas proximidades da igreja ou do coreto, onde eram vendidos canjica, pastéis, cachorro quente - com o molho irresistível da Madrinha Alaíde do Zé Corino ( meu saudoso padrinho de crisma por quem sempre tive uma admiração e um carinho todo especial). A barraca da pescaria com seus brindes enterrados na caixa de areia com uma argola do lado de fora, fazia a alegria da criançada e até mesmo dos adultos. Tinha também a barraca do coelho cheia de casinhas de madeira numeradas. Enquanto não se vendia todas as fichas, o coelho ficava preso numa casa sem porta no centro do tablado. Quando a última ficha era vendida, era solto e corria em direção a uma casa. Se o número da casa escolhida fosse o mesmo da sua ficha era só pegar o prêmio: brinquedo, caneta, borracha, dentre outros atrativos. Os prêmio eram doados pelos comerciantes e paroquianos. colaborar. Para que as barracas pudessem funcionar ocorria um trabalho solidário. Os organizadores se encarregavam de preparar o festejo e conseguir as doações. Tudo era doado: desde o molho do cachorro-quente até o óleo para fritar os pastéis.

O leilão, que ocorria quase no final do festejo, era aguardado pelos arrematadores. Nosso leiloeiro oficial, o Vista-Alegre, fazia a oferta das prendas com o tradicional “quem dá mais , dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. Vendido para ...” As prendas: frangos e lombos assados, rocamboles, pudins, garrafa de vinho e outras iguarias, eram carinhosamente preparados e doados pelos paroquianos. O dinheiro arrecadado era revertido para as obras da Igreja. A animação tomava conta de todos. As pessoas se encontravam, conversavam e divertiam-se juntas(grifo meu). A nossa Banda de Música encantava a todos “cantando coisas de amor” , sob o comando competente do Maestro Milagres. Como eram gostosos os nossos maios e junhos no início da década de 60!

No mês de junho, no dia de Santo Antônio, na Praça Santo Antônio, era celebrada a cerimônia religiosa da oferta dos lírios ao santo casamenteiro pelos meninos. Os meninos que participavam do cerimonial colocavam um lírio nas mão do santo. A Praça era enfeitada com bandeirinhas coloridas. Armavam-se as barraquinhas e a festa era celebrada com alegria. As pessoas se encontravam e divertiam-se juntas. Celebrava-se a vida!

As festas juninas, com o tradicional pau-de-cebo, comidas típicas, quadrilhas, fogueiras, fogos de artifício, busca-pé, a batata doce assada na fogueira, o sanfoneiro e a nossa sempre presente Banda de Música, ofereciam uma verdadeira terapia para os nossos problemas. Mesmo estando bastante frio, as pessoas se agasalhavam e participavam dos festejos. Naquela época os seres humanos conversavam entre si! O estar só era substituído pelo estar com.

Um dia a televisão fixou suas poderosas antenas em Recreio. Outros interesses foram criados pela mídia. O encanto da telinha, com sua programação irresistível, começou a prender as pessoas em casa. O estar com foi aos poucos substituído pelo estar só. As tradicionais festas foram paulatinamente diminuindo. O ser humano foi se reificando e se tornando um escravo dos apelos da sociedade de consumo. O que dava sentido à vida, como por exemplo, encontrar com os amigos, conversar, comer juntos um pastel, participar do leilão, ouvir a banda cantar, foi trocado pelo isolamento iluminado pela luz do monitor da tv na solidão-com das salas das casas. Os cinemas fecharam. Os parques e os circos desapareceram da cidade. As ruas cheias de gente passeando no trecho da rua do cinema até o jardim nas noites de sábados e domingos pertencem ao passado. As moças desfilavam pelas ruas enquanto os rapazes formavam uma alameda humana tentando conquistar algum broto. Quando conseguia, iam para o jardim.

Hoje os consultórios dos psiquiatras, psicólogos e psicanalistas estão cheios de pessoas procurando o bálsamo para seus medos, depressões, inseguranças, estresses e solidão. As maravilhas do avanço tecnológico e científico não conseguiram libertar o homem da ansiedade e da solidão. As indústrias farmacêuticas lançam anualmente novas drogas que prometem reduzir a ansiedade e eliminar a depressão. É como se fosse possível comprar a felicidade através do uso dos antidepressivos. Combatem-se os sintomas e as causas continuam produzindo suas conseqüências desastrosas.

Não podemos deixar morrer as tradições do nosso povo. A história está cheia de exemplos. Aconteceu com os nossos índios, com os Incas e com os efeitos devastadores do imperialismo na América. A cultura de um povo é sagrada. Suas tradições são intocáveis. É a sua identidade.

Recreio precisa libertar-se do marasmo cultural que tomou conta da cidade. Que Deus ilumine o próximo prefeito para que tenha sensibilidade e possa resgatar e preservar as tradições do nosso povo investindo no setor cultural, dando vida e alegria à nossa querida cidade. Amém!

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