Faziam parte dos festejos de maio e junho o desafiador pau-de-sebo e as barraquinhas armadas nas proximidades da igreja ou do coreto, onde eram vendidos canjica, pastéis, cachorro quente - com o molho irresistível da Madrinha Alaíde do Zé Corino ( meu saudoso padrinho de crisma por quem sempre tive uma admiração e um carinho todo especial). A barraca da pescaria com seus brindes enterrados na caixa de areia com uma argola do lado de fora, fazia a alegria da criançada e até mesmo dos adultos. Tinha também a barraca do coelho cheia de casinhas de madeira numeradas. Enquanto não se vendia todas as fichas, o coelho ficava preso numa casa sem porta no centro do tablado. Quando a última ficha era vendida, era solto e corria em direção a uma casa. Se o número da casa escolhida fosse o mesmo da sua ficha era só pegar o prêmio: brinquedo, caneta, borracha, dentre outros atrativos. Os prêmio eram doados pelos comerciantes e paroquianos. colaborar. Para que as barracas pudessem funcionar ocorria um trabalho solidário. Os organizadores se encarregavam de preparar o festejo e conseguir as doações. Tudo era doado: desde o molho do cachorro-quente até o óleo para fritar os pastéis.
O leilão, que ocorria quase no final do festejo, era aguardado pelos arrematadores. Nosso leiloeiro oficial, o Vista-Alegre, fazia a oferta das prendas com o tradicional “quem dá mais , dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três. Vendido para ...” As prendas: frangos e lombos assados, rocamboles, pudins, garrafa de vinho e outras iguarias, eram carinhosamente preparados e doados pelos paroquianos. O dinheiro arrecadado era revertido para as obras da Igreja. A animação tomava conta de todos. As pessoas se encontravam, conversavam e divertiam-se juntas(grifo meu). A nossa Banda de Música encantava a todos “cantando coisas de amor” , sob o comando competente do Maestro Milagres. Como eram gostosos os nossos maios e junhos no início da década de 60!
No mês de junho, no dia de Santo Antônio, na Praça Santo Antônio, era celebrada a cerimônia religiosa da oferta dos lírios ao santo casamenteiro pelos meninos. Os meninos que participavam do cerimonial colocavam um lírio nas mão do santo. A Praça era enfeitada com bandeirinhas coloridas. Armavam-se as barraquinhas e a festa era celebrada com alegria. As pessoas se encontravam e divertiam-se juntas. Celebrava-se a vida!
As festas juninas, com o tradicional pau-de-cebo, comidas típicas, quadrilhas, fogueiras, fogos de artifício, busca-pé, a batata doce assada na fogueira, o sanfoneiro e a nossa sempre presente Banda de Música, ofereciam uma verdadeira terapia para os nossos problemas. Mesmo estando bastante frio, as pessoas se agasalhavam e participavam dos festejos. Naquela época os seres humanos conversavam entre si! O estar só era substituído pelo estar com.
Um dia a televisão fixou suas poderosas antenas
Hoje os consultórios dos psiquiatras, psicólogos e psicanalistas estão cheios de pessoas procurando o bálsamo para seus medos, depressões, inseguranças, estresses e solidão. As maravilhas do avanço tecnológico e científico não conseguiram libertar o homem da ansiedade e da solidão. As indústrias farmacêuticas lançam anualmente novas drogas que prometem reduzir a ansiedade e eliminar a depressão. É como se fosse possível comprar a felicidade através do uso dos antidepressivos. Combatem-se os sintomas e as causas continuam produzindo suas conseqüências desastrosas.
Não podemos deixar morrer as tradições do nosso povo. A história está cheia de exemplos. Aconteceu com os nossos índios, com os Incas e com os efeitos devastadores do imperialismo na América. A cultura de um povo é sagrada. Suas tradições são intocáveis. É a sua identidade.
Recreio precisa libertar-se do marasmo cultural que tomou conta da cidade. Que Deus ilumine o próximo prefeito para que tenha sensibilidade e possa resgatar e preservar as tradições do nosso povo investindo no setor cultural, dando vida e alegria à nossa querida cidade. Amém!
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