Total de visualizações de página

PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

PLACA  NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

sábado, 8 de setembro de 2007

JUVENTINO E O TRINCA FERRO

Zixo, proprietário do Boteco
Fla-Flu, no canto direito da
fotografia.
Juventino estava pensativo. Tinha vivido um dia de cão. Alguns pensamentos deram um nó em sua cabeça. Nutria uma aversão incontrolável sobre qualquer assunto que falasse sobre morte. Era só ouvir a maldita palavra e já ficava atazanado, preocupado e mal humorado. Acabava com o seu dia. Sua cabeça não dava conta de coisas complicadas. Gostava mesmo era de conversar sobre futebol, passarinho, pescaria e as coisas simples do cotidiano. Seu Mengão estava bem e o colerinho gravatinha cantando bonito. Era o que importava. Porém alimentava um desejo incontrolável de comprar o Trinca Ferro do Zé Peres. Nunca tinha visto passarinho cantar daquele jeito. Já estava namorando o danadinho há tempos. Todo dia passava em frente da casa do Zé Peres e dava uma paradinha para ouvir o seu canto. Até que um dia o “demo”, o “coisa ruim” colocou maus pensamentos em sua cabeça. Matutou um plano para roubar o Trinca Ferro. Enquanto o Zé Peres estivesse varrendo o morro, entraria de mansinho, daria um pedaço de carne para distrair o cachorro Fusquinha, pegaria a gaiola e sairia correndo feito um corisco. Já estava mesmo decidido a colocar o plano em prática. Deitou cedo e acordou com a consciência pesada. “Deus me livre desses maus pensamentos! Minha santa mãezinha vai ficar aborrecida comigo”. Fez o em-nome-do-pai e foi tomar o seu café. O colerinho assanhava seu canto, as galinhas cacarejavam, o galo todo imponente reinava soberano no quintal, suas varas de pescar estavam no mesmo lugar e o enxadão para cavar minhoca encostado-se à cerca. Roçou o queixo com a mão e fez um juramento. Não iria mais passar em frente da casa do Zé Peres. Saiu de casa, passou ao lado da igreja e tampou os ouvidos para não ouvir o danado do Trinca Ferro. Não teve jeito. Suas pernas pareciam que eram de outra pessoa. Queria descer o morro ao lado da casa paroquial, mas lá estava de novo olhando para o Trinca Ferro. Falou consigo mesmo: ”Este sofrimento ta parecendo sangria desatada. Vou dar um final nisso. Pensou, ponderou e arriscou uma cartada decisiva: “Zé Peres, quer vender o Trinca Ferro?". Fez-se um silêncio angustiante. A resposta veio como uma cacetada na cabeça. “ Não. Nem adianta botar preço neguinho!”. “Quer trocar pelo meu colerinho?” “Aquela porcaria de passarinho? Faz isso não neguinho! Aí você me ofende!”. O sangue subiu-lhe à cabeça. Se o Zé Peres não fosse filho da Dona Anita com o Sr. Arlindo e não tivesse sido beque do glorioso Recreio EC ao lado do Zé Pretinho e do Dedinho não iria engolir aquele desaforo. Engoliu seco, desceu as escadarias da Ladeira Guimarães, dobrou a direita, entrou no Vai-e-Volta e parou no Boteco Fla-Flu para tomar uma branquinha com aquele tira gosto que só Zico sabia fazer. Proseou um pouco com o Rubico Tantã e deu uma esticada até a venda do Celino para comprar uns mantimentos. Quando viu o saco de alpiste pensou logo no Trinca Ferro. Desconversou o pensamento e lembrou que tinha horário marcado com o Sr. Lindolfo para cuidar do dente que já estava incomodando. “Pronto Juventino, esse aí não vai mais incomodar. A propósito do que você me contou, seria melhor procurar um bom passarinheiro e comprar um Trinca Ferro”. “ Falo e dizeu Doto Lindolfo! Vou dar uma chegada no Bambu pra espairecer e depois cuido de seguir o seu conselho”.
Já passava das onde da noite quando Juventino chegou em casa. Os olhos pesavam que nem chumbo. Estava cansado e com muito sono. Tinha prometido ao Moreira que bem cedinho iria pintar a casa do Capitão Inácio. Jogou-se na cama e apagou.

Nenhum comentário: