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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

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terça-feira, 23 de outubro de 2007

ENTREVISTA COM ALAOR PERES

Carta escrita por seu pai, Arlindo Peres Martins, comunicando que a ordem de serviço para
trabalhar na EF Leopoldina. Esta carta foi escrito a lápis. Observervem a caligrafia e o português bem escrito.

Tom Mix, seu cowboy preferido.

Alaor com sua sobrinha
Maria Fernanda na Expo-
sição em Recreio. A direita
com Sérgio Dutra numa come-
moração do Natal na casa de sua irmã Aparecida.





A MAGIA DO CINEMA



Aristides Dorigo



Pelo que sabemos, Alaor Peres, sempre foi entusiasta da Sétima Arte e, desde jovem, tornou-se operador do antigo Cinema Eldorado do Sr.Amaro de Souza Melo.



Alaor é ferroviário aposentado como agente de estação, onde iniciou sua carreira como praticante de serviços gerais. Muito inteligente, fez sucesso até alcançar o máximo da categoria. Por vezes, com agente de estação, chegou a receber elogios públicos da administração da estrada, por sua destacada atuação, servindo a contento a clientela da RFFSA.



1 – Alaor, o que você mais admirava no cinema, as cenas dramáticas ou o desempenho dos Artistas?



Admirava as cenas dramáticas quando bem desempenhadas.



2 – Quais os filmes que mais lhe despertaram atenção?



“E o vento levou”, “Ben Hur, “Os dez mandamentos” e outros.



3 – Que tipo ou gênero de filme você sempre apreciou?



Bang-bang.



4 – Você chegou a conhecer algum filme mudo? Quando e em que cinema?



Conheci “O Circo” e “Tempos Modernos”. Não me lembro em que cinema.



5 – Alcançou no cinema filmes seriados? Em quais você “mais se amarrou”?



Sim. “O Zorro”, “Os vigilantes da lei”, “Filha da Selava”. “Os Perigos de Nioka”, “Falcão da Floresta”, “Demônios em Luta” e “Mulher Tigre”.



6 – Na sua opinião, quais os astros ou estrelas que marcaram a trajetória do cinema em seus 100 anos?



Tom Mix, Buck Jones, Ken Maynard e seus cavalos Tony, Silver e Tarzan. Gary Cooper, John Wayne. As estrelas Rita Moreno, Claudette Colbert, Olívia Haviland e Bárbara Stanwyck.



7 – Quais os gêneros que levaram mais público ao cinema?



Clássicos, Históricos, Bang-bang e seriados.



8 – Diga um fato curioso ou pitoresco que teria ocorrido durante algumas projeções no Cine Eldorado?



Pitoresco não me lembro. Mas o fato curioso e dramático aconteceu quando incendiou um capítulo de um seriado. Não havia extintor no cinema. Foi um “Deus me acuda”!



9 – Sabemos que você era fã dos filmes faorestes. O que mais admirava neles, desempenho dos cowboys, das mocinhas e/ou as locações das cenas?



Admirava o desempenho dos cowboys e as locações das cenas.



10 – Você viu algum faroeste italiano? Eram melhores ou piores que os americanos?



Assis vários faroestes italianos, mas os americanos sempre foram melhores.



11 – Dos filmes estrangeiros, quais os melhores? E os filmes nacionais, quais os gêneros que lhe causaram admiração?



Filmes estrangeiros são vários gêneros que me agradaram. Dos filmes nacionais, gostei de Oscarito e das chanchadas carnavalescas.



12 – Você ficou nostálgico quando os cinemas foram fechados em Recreio? Alimenta algum desejo na sua volta? E isto seria possível hoje, nesta fase de crise?



Fiquei muito triste. Tenho esperança que algum dia serão reabertos, pois a Sétima Arte não pode faltar na cidade.



13 – Chegou a freqüentar o Cineminha do Sindicato dos Ferroviários? Freqüentou o “Cine Sonho de Criança”, no Clube Flor da Mocidade? Freqüentou o Cine Recreio?



Sim. Freqüentei todos. E graças ao Sr. Dorigo que, com seu esforço, nos proporcionou, essa grande alegria, exibindo filmes do Carlitos e Gordo e Magro, seriados e Bang-bang.



14 – Deixamos espaço final para outras considerações que julgar oportunas.



Agradeço ao Sr. Aristides Dorigo pela consideração. Mas não posso deixar de lado o fato de ser ele o melhor conhecedor em assuntos da Sétima Arte. Minha admiração e respeito.



Alaor muito grato por sua gentileza e atenção. Faço votos que, como você espera, algum dia o cinema possa voltar a funcionar nesta cidade, para maior alegria de seus fãs e crescimento de nossa cultura. Que você seja feliz ao lado de sua dedicada esposa e familiares.



Esta entrevista feita pelo Sr. Aristides Dorigo foi publicada no jornal O Repórter da Mata, Ano IV, Número 39, Leopoldina, 09/02 a 9/03/2001.



Alaor faleceu em Juiz de Fora no dia 7 de agosto de 2003.



Abaixo uma homenagem prestada pelo médico Douglas Lourenço ao Alaor.





ALAOR



Douglas Lourenço



“A vida não passa de uma viagem de trem,



Cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas



Agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros.



Quando nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos



Com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco:



nossos pais.



Infelizmente, isso não é verdade em alguma estação eles descerão



e nos deixarão órfãos de seu carinho, amizade e companhia insubstituível...



Mas isso não impede que, durante a viagem, as pessoas interessantes



e que virão a ser super-especiais para nós, embarquem.



Chegam nossos irmãos, amigos e amores maravilhosos.



Muitas pessoas tomam esse trem apenas a passeio,



outros encontrarão nessa viagem somente tristeza,



ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precisa



Muitos descem e deixam saudades eternas...”



Dia 7 de agosto partiu Alaor em sua última viagem e já chegou à eternidade. No “trem da vida” nos encontramos pela última vez em 1965, em Manhumirim-MG, onde estudava interno no Colégio Pio XI (1962/1965) e Alaor, Agente da Estação Ferroviária, era um elo de minha comunicação com meus pais. Diariamente das mãos de Alaor recebíamos (eu e Joglita, José Dilton, Silvio César (Bolachinha), Winston e Delano, Ari Pessamilo, Rubens (Genin Coveiro), Luiz Carlos, Edelmo, João Batista, José Heleno e Geraldinho Damasceno, Rafael e tantos outros...) de suas mãos, cartas e haveres que precisávamos de nossos pais, num tempo em que não existiam telefones celulares, sedex ou internet e que a comunicação por telefone fixo ou correio era ainda muito rudimentar. Ali , com a ajuda das mãos solidárias de Alaor, demos importantes passos que nos trouxeram à vida profissional que hoje desfrutamos. Como escreveu Dorigo, sua estrela continuará fulgurando em nossos corações. Uma estrela que nos apontava Recreio, além de uma mar de morros. Uma estrela que iluminava em nossas mentes a lembrança de nossos pais e reacendia nossas saudades. Sempre sorrindo, sempre solícito. Naquela estação ferroviária Alaor mais parecia um xerife a nos ajudar e defender. Receba Alaor, na eternidade, tudo aquilo que Deus preparou para aqueles que nesta vida amam o próximo como a si mesmo.



(Artigo publicado na Mar de Morros de outubro de 2003)





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