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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

PLACA  NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

sábado, 6 de outubro de 2007

A FRANÇA FICAVA NA RUA CAMPO LIMPO. UMA HOMENAGEM A DONA LIA

II Festival da Canção Popular de Recreio realizado em 1972. Dona Lia é a primeira a esquerda.
Acervo: Anibal Werneck de Freitas




Armando Sérgio Mercadante

“La jeneusse n’est pás une période de la vie, cést un état d’esprit; il consiste dans une certaine forme de la volonté, une disposition de l’imagination, une force des émotions(...)” (Samuel ULMAN)

Profª Lia Albuquerque Monteiro, ou Madame Lia (pronuncia-se Liá), como gostava de ser chamada carinhosamente pelos seus élèves (alunos), transcendeu seu tempo com suas atitudes, jovialidade, entusiasmo e uma verdadeira paixão pelo novo.Vibrava com os jovens, porque também seu coração irradiava juventude. Estava sempre antenada aos acontecimentos do seu tempo.

Quem teve o privilégio de ser seu aluno pode sentir em atitudes seu espírito jovem, seu entusiasmo e o amor que dedicava ao magistério, especialmente o ensino da língua francesa, qualidades estas que utilizava para conviver com os adolescentes da minha época.

Fui seu aluno, e pelo fato de morarmos na antiga Rua Campo Limpo, hoje Rua Serafim Coimbra, tive a oportunidade de conviver mais freqüentemente com ela.

Onde e com quem aprendeu o francês, que tanto amou na vida e na sala de aula? Na Faculdade do Esforço, do Autodidatismo, nos Cursos de Aperfeiçoamento e por Correspondência, onde pacientemente colocava os discos em sua eletrola para aprimorar a pronúncia, o conhecimento e aprender novas canções objetivando motivar suas aulas. Só sei que aprendeu e partilhou com alegria e entusiasmo os conhecimentos adquiridos. Se a semente não for lançada ao solo...

Convencia-nos com facilidade, de forma agradável e enérgica, a ler, traduzir, falar e a cantar as chansons que ainda permanecem vivas em minha memória.

Sob o ponto de vista didático e pedagógico, transcendeu o seu tempo. Dava atendimento individual àqueles que encontravam dificuldades em assimilar a nova língua, suas aulas eram agradáveis e seus conselhos sempre bem recebidos. Se fosse preciso, dava aula particular em sua modesta residência sem nada cobrar. Seu salário era o sucesso do seu aluno.

Após a Prova Final, quem não conseguisse média, iria assim mesmo para a série seguinte (estudávamos Francês na 3ª e 4ª série ginasial) onde ela, incansavelmente, trabalharia as dificuldades apresentadas pelos alunos “reprovados”. A única exigência para os reprovados serem promovidos para a série seguinte era jurar que iriam estudar no próximo ano e cantar na ponta da língua La Marseillase, hino nacional da França.

Seu grande sonho foi conhecer sua França querida. De todos os cantores franceses, tinha preferência por Gilbert Becaud e a grande Edith Piaf. Dizia que suas pronúncias eram claras e perfeitas.

Mais tarde fiquei sabendo que a oportunidade de realizar o grande sonho de sua vida iria se tornar realidade. Mas Dona Lia não quis (ou não pode) conhecer a França. O coração tem razões que a própria razão desconhece. Ou, quem sabe, a vida às vezes puxa o nosso tapete na hora de realizarmos um sonho. Até hoje desconheço os motivos da desistência. Fiquei perplexo.

Nos meus 35 anos de magistério sempre procurei me tornar digno de “desatar a correia de suas sandálias”. Não sei se consegui. Quem foi seu “élève” sabe muito bem o que eu quero dizer.

No início das aulas:

- Bonsoir mes élèves!

- Bonsoir Madame Lia!

Ao findar a aula:

- Bonne nuit mes élèves!

- Bonne nuit Madame Lia!

A cada aula um exemplo de competência, seriedade e amor à arte de educar. Seu segredo era ensinar com paixão e desejar que seus alunos compartilhassem também deste sentimento profundo. Seu entusiasmo e sua “jeneusse” eram contagiantes. É importante dizer que amava o Brasil com orgulho. A França era a sua segunda pátria.

Hoje leio francês graças à Dona Lia. Quando em 1968 fui aprovado no vestibular em Muriaé, na prova oral de Francês tive que ler e traduzir para a Irmã Cândida alguns trechos do livro Le Petit Prince. Ao terminar minha prova ouvi com orgulho da Irmã Cândida:

- Très bien!

Meus olhos lacrimejaram e meu coração bateu mais forte. Em voz bem baixa disse:

- Merci beaucoup (muito obrigado) ma professeur!

NOTA: Estudei com Dona Lia em 1962 e 1963, quando conclui meu Curso Ginasial. Foi a paraninfa da minha turma. Em 1968, após cinco anos sem estudar francês, fui aprovado na prova oral de francês no vestibular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Marcelina de Muriaé, apenas com os conhecimentos adquiridos no Curso Ginasial.



Minha poesia preferida


CHANTECLER

Je suis Chantecler.

Mon histoire est três triste!

Je croyais que mon chant faisait lever le soleil.

Um jour, je me suis endormi.

Les heures passèrent. Le matin arriva.

Et je dormais toujours.

Tout à coup, j’ouvris les yeux.

Le soleil brillait déjà dans le ciel.

Il faisait clair.

Le soleil s’était levé sans moi!

Quelle disillusion! Quelle tristesse!

TRADUÇÃO

O Chantecler(*)

Eu sou o Chantecler

Minha história é muito triste

Eu acreditava que meu canto fazia o sol nascer

Um dia,eu adormeci

As horas passaram. O amanhecer chegou.

E eu continuava dormindo.

De repente, abri os olhos.

O sol brilhava desce cedo no ceú.

Ele clareava o dia.

O sol tinha nascido sem mim!

Que desilusão! Que tristeza!

(*) Galo que acreditava que o sol só nascia

depois do seu canto.


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