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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

PLACA  NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

DIZEM QUE A VIDA COMEÇA AOS 50


Armando Mercadante

Sou um cinqüentão em plena andropausa vivenciando as conseqüências provocadas pela diminuição da produção hormonal. A linha do passado está ficando cada dia mais comprida e a do futuro diminuindo. É uma dura constatação. Quando converso com um colega e recordamos fatos da infância levo um tremendo susto: mas isso aconteceu há 40 anos atrás! Dá até um calafrio. O Armando de ontem transformou-se no Sr. Armando de hoje. Só me resta imitar a raposa na fábula de La Fontaine. Segunda a fábula, como a raposa não conseguia alcançar as uvas na parreira racionalizou dizendo:- Não tem importância. Elas estão verdes.

Os psicólogos definem o comportamento da raposa como racionalização. Mecanismo de defesa onde a pessoa procura enganar a si mesma, encontrando justificativas intelectuais para uma situação que é vivida com certa intensidade emocional. Sua função é reduzir a ansiedade. Danem-se os psicólogos e viva a raposa! Somos apenas jovens com os cabelos grisalhos que transformamos nossas recordações em artigos na MM. Qualquer dia entraremos na “melhor idade”, ou melhor, terceira idade. Essa história de melhor idade me parece “raposice aguda”. Vivam os psicólogos e fora com a raposa!

Um determinado autor, que graças a Deus esqueci o nome, afirmou impiedosamente que sentir saudades do passado é um dos sintomas de que estamos envelhecendo. Como não sentir saudades do passado? Como não ouvir Only You com The Platters e não lembrar com emoção dos tempos da brilhantina? Dos Anos Dourados? E as recordações transformadas em artigos na MM? Se o autor estiver certo alguns escritores marmorristas já estão “prá-lá-de-bagdá”, com direito ao pé-na-cova, expressão utilizada pelos ferroviários na época de ouro da ferrovia. Quer dizer que sentir saudades da Maria Fumaça e do barulho do trem é sinal de envelhecimento? Então, estou prá lá de velho!

O nosso marmorrista Zuca (Quebinha) está com o telhado todo branco. Parece até negativo de retrato. (Zuca: temos agora dois negativos de retrato em Recreio). O meu telhado já está grisalho. Em 2008 ficarei Sex. As barbas do Pedro lembram o Moisés dos dez mandamentos. O Aníbal já está com as telhas um tanto quanto danificadas. Já o telhado do John parece imagem do bombardeio no Iraque. Vou arriscar uma afirmação que vai dar o que falar: MM surgiu como conseqüência da andropausa dos seus criadores. Essa história de criar um espaço para o recreiense publicar suas criações literárias é conversa prá boi dormir. Se alguém duvidar é só perguntar para o Dr. Freud.

Poder envelhecer com dignidade é um direito do ser humano que precisa ser garantido pelo Estado. Os avanços da Geriatria e da Gerontologia estão contribuindo para uma nova visão da velhice. A população idosa está aumentando significativamente. O impacto desse fenômeno demográfico no planejamento das cidades e nos cofres da previdência é profundo. Temos que romper com a visão equivocada e preconceituosa da velhice como idade da estagnação, da improdutividade, do sucateamento do ser humano. O leitor pode (deve) acreditar: a velhice é a melhor idade! Viva a raposa e abaixo os psicólogos!

“Até pouco tempo, o único critério para medir o sucesso ou fracasso dos cuidados da vida era sua duração. Em seguida, tomou-se consciência de que a longevidade adquirida não devia ser reduzida a uma simples sobrevivência biológica, mas, que uma vida mais longa nem sempre significa uma vida melhor e que não é suficiente alcançar uma meta cronológica do corpo para vencer a morte física, se ocorrer aquela psíquica. O objetivo a ser colocado deve ser uma meta ligada não só a quantidade numérica de anos, mas também à qualidade de vida, de tal maneira a tornar o envelhecimento desejável. Somente nos últimos anos, conseguindo-se dar mais anos à vida, entendeu-se a importância de se acrescentar vida aos anos”.

“A velhice tem que ser pensada como uma perspectiva de totalidade sócio- biológica, mais do que só um fato biológico. A velhice é um fenômeno com várias dimensões e complexidade, incluindo fatores políticos, sociais, econômicos e culturais. A capacidade de produzir, a questão econômica, costuma-se sobrepor todas as demais fazendo, inclusive, com que a valorização da vida humana se faça à partir de critérios meramente materiais. A pessoa humana atualmente só é importante enquanto integrada ao sistema produtivo e contribuindo para a expansão do capital. Um sistema de vida cruel e mutilador: um sistema que não oferece á imensa maioria de seus componentes o menor incentivo para viver. Que antecipa a morte das pessoas que envelhecem”.

“O que vale na vida é a vida interior, são os pensamentos, são as sensações, são as esperanças e não é privilégio da velhice. Morre-se em qualquer idade".

A vida é o corpo em movimento. Mesmo lento, no corpo do idoso não deixam de perpassá-lo por desejos, por sonhos, por fantasias, por possibilidades de viver bem. "A velhice necessariamente não precisa impedir que a pessoa faça tudo o que sempre fez; o que importa é a qualidade do que é feito e como se faz”.

“Com estas preocupações admitimos que temos que sonhar para vislumbrar outra realidade mais promissora. Sonhos estes que devem ser percebidos no íntimo de diferentes pessoas, instituições, donos do poder , pois todos poderão". passar por isto. Sonhos que possam ser traduzidos em ações, por todos aqueles que acreditam na velhice como mais outra fase realizadora na vida. Isso não custa tanto assim, é só começar cada um fazendo a sua parte.

Para tanto, o ciclo da vida não deve mais prever uma infância dominada pela dependência, uma idade juvenil e adulta onerada pelo trabalho e uma velhice interminável e inútil, mas, sim uma longa idade livre, sempre digna de ser vivida e com a possibilidade de dedicar-se também a objetivos sociais e espirituais num postura de constante aprendizagem”. (Mercadante, Lenira R.P. Monografia de conclusão do Curso de Psicologia).

Em tempo: ler MM só com uma lupa.



segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A TRADIÇÃO DA COLHEITA DAS UVAS NO NATAL DA FAMÍLIA PERES EM RECREIO

Na fotografia Ulisses Robert Cunha passando para seu afilhado de batismo e sobrinho Armando Sérgio Peres Mercadante a missão de não deixar morrer a tradição da família de colher as uvas após o almoço com a tradicional bacalhoada no dia de Natal. A fotografia foi tirada em 25 de dezembro de 1996, último Natal que Ulisses, nosso Patriarca, passou conosco.
Essa tradição vem desde os tempos do Arlindo Peres quando casou com Anita. Quando Ulisses casou com a Arminda assumiu a função de podar a parreira e colher as uvas.
Hoje Ulisses não está mais entre nós. As uvas continuam sendo colhidas e o Anderson, filho do José Peres, assumiu a função de fazer a podagem.
A família cresceu, alguns se foram e a tradição continua e continuará sempre viva, passando de geração para geração. Arlindo Peres e Anna Rocha Peres (Anita) "combateram o bom combate" e deixaram bons frutos. Seus filhos, netos, bisnetos e genros continuam celebrando o Natal na casa em que viveram e criaram seus filhos, deixando como legado a honradez de caráter e o respeito a Deus.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

MAIO MÊS DE MARIA



Lenira Rocha Peres Mercadante
“Eis aqui a serva do Senhor.
Faça-se em mim segundo a tua palavra”
(Lc 1,38).
Quando recebi a última MM e vi na capa a fotografia da antiga Igreja de Recreio, senti uma sensação gostosa em lembrar dos bons tempos da minha infância. Logo veio a lembrança as comemorações do mês de maio em Recreio. A expectativa era muito grande para a chegada deste mês que se homenageava Maria, principalmente pelas crianças e os que participavam ativamente das atividades organizadas pela Igreja.
Para nós, crianças na época, era uma grande festa cheia de muita emoção e alegria. Dentro da Igreja armava-se um altar muito bonito, onde se realizava a coroação de Nossa Senhora. A ornamentação era de muito bom gosto e primava pelo capricho. O altar ficava lindo revestido com o azul da cor do céu. E lá estava a imagem de Maria de uma beleza incomparável.
Havia os ensaios de preparação das crianças que iriam participar do grande acontecimento: cantos, como coroar e colocar a palma, a oferta do buquê de flores e o lugar onde cada uma deveria ocupar. As responsáveis pela organização e pelo ensaio, salvo engano, eram Maria Tomasco e Maria, Nadir e Nair do Frederico.Terminado o ensaio, as crianças arrumavam um corre-corre em busca das flores que seriam jogadas em Maria em forma de pétalas. “E a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem (Lc 1,50)”.
A noite era encantada como num conto de fadas. Lembro-me ainda das roupas dos anjos. Eram lindas, feitas de tecido branco, rosa ou azul claro e brilhante, com a parte de cima trabalhada com casinhas de abelhas onde eram colocadas inúmeras estrelinhas prateadas com muito brilho. Na cabeça uma coroa de flores e as asas, tão lindas, muito brancas. Minha mãe tinha o costume de nos agasalhar por baixo da vestimenta, devido ao intenso frio das noites de maio.
O ponto de encontro e saída da procissão ocorria em frente da casa da Dona Rosa Vieira, pessoa boníssima e educada. Lembro-me dela com muito carinho. Ali se reuniam todos os participantes: pais, anjos e acompanhantes. Com muita beleza e fé a procissão caminhava em direção da Igreja seguida da Banda de Música que contagiava a multidão. Que maravilha! Cá pra nós, a Banda animava e alegrava muito a cidade. Deus queira que ainda tenhamos outra. Estou confiante. O andor de Maria e os anjos iam à frente. Os fogos de artifícios embelezavam e encantavam a todos. A multidão cantava: “Ave, ave, ave Maria (...)” Momentos de muita emoção estavam sendo vividos intensamente. Na hora da coroação os sinos repicavam, os foguetes explodiam nos céus, a Banda tocava e o retratista tirava as fotos sob encomenda. Era o momento mais bonito e emocionante de todos. Toda a atenção estava voltada para aquela que é a mais sublime de todas as criaturas: Maria. “A minha alma engradece o Senhor. Exulta meu espírito em Deus meu Salvador (Lc 1,46)”. Naquele momento Maria estava sendo coroada por um dos anjos. Após a coroação ocorria a distribuição de enfeites ou sacolinhas, com doces oferecidos geralmente pela mãe do anjo que coroava Maria. “O Senhor fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome (Lc 1,49)”.
Após a coroação, o povo ia para as barraquinhas saborear salgadinhos, bolos, chocolate,quentão era o que não faltava. E sempre terminava com um leilão de dar água na boca, devido à variedade das deliciosas prendas. E a festa continuava com a participação de muita gente, apesar do frio que compunha o cenário.
Vivíamos as comemorações do mês de maio com muita intensidade e alegria. São momentos inesquecíveis.É importante que se viva cada momento de nossas vidas com muita intensidade, qualidade, amor, paz, alegria, coragem, confiança e fé. Porque a vida não deve ser contada pelos dias que passam e sim pelas coisas boas que fazemos e vivemos..
O tempo passa, voa, sem darmos conta. É como um pássaro que escapa das nossas mãos e se perde no infinito.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

ENTREVISTA COM ALAOR PERES

Carta escrita por seu pai, Arlindo Peres Martins, comunicando que a ordem de serviço para
trabalhar na EF Leopoldina. Esta carta foi escrito a lápis. Observervem a caligrafia e o português bem escrito.

Tom Mix, seu cowboy preferido.

Alaor com sua sobrinha
Maria Fernanda na Expo-
sição em Recreio. A direita
com Sérgio Dutra numa come-
moração do Natal na casa de sua irmã Aparecida.





A MAGIA DO CINEMA



Aristides Dorigo



Pelo que sabemos, Alaor Peres, sempre foi entusiasta da Sétima Arte e, desde jovem, tornou-se operador do antigo Cinema Eldorado do Sr.Amaro de Souza Melo.



Alaor é ferroviário aposentado como agente de estação, onde iniciou sua carreira como praticante de serviços gerais. Muito inteligente, fez sucesso até alcançar o máximo da categoria. Por vezes, com agente de estação, chegou a receber elogios públicos da administração da estrada, por sua destacada atuação, servindo a contento a clientela da RFFSA.



1 – Alaor, o que você mais admirava no cinema, as cenas dramáticas ou o desempenho dos Artistas?



Admirava as cenas dramáticas quando bem desempenhadas.



2 – Quais os filmes que mais lhe despertaram atenção?



“E o vento levou”, “Ben Hur, “Os dez mandamentos” e outros.



3 – Que tipo ou gênero de filme você sempre apreciou?



Bang-bang.



4 – Você chegou a conhecer algum filme mudo? Quando e em que cinema?



Conheci “O Circo” e “Tempos Modernos”. Não me lembro em que cinema.



5 – Alcançou no cinema filmes seriados? Em quais você “mais se amarrou”?



Sim. “O Zorro”, “Os vigilantes da lei”, “Filha da Selava”. “Os Perigos de Nioka”, “Falcão da Floresta”, “Demônios em Luta” e “Mulher Tigre”.



6 – Na sua opinião, quais os astros ou estrelas que marcaram a trajetória do cinema em seus 100 anos?



Tom Mix, Buck Jones, Ken Maynard e seus cavalos Tony, Silver e Tarzan. Gary Cooper, John Wayne. As estrelas Rita Moreno, Claudette Colbert, Olívia Haviland e Bárbara Stanwyck.



7 – Quais os gêneros que levaram mais público ao cinema?



Clássicos, Históricos, Bang-bang e seriados.



8 – Diga um fato curioso ou pitoresco que teria ocorrido durante algumas projeções no Cine Eldorado?



Pitoresco não me lembro. Mas o fato curioso e dramático aconteceu quando incendiou um capítulo de um seriado. Não havia extintor no cinema. Foi um “Deus me acuda”!



9 – Sabemos que você era fã dos filmes faorestes. O que mais admirava neles, desempenho dos cowboys, das mocinhas e/ou as locações das cenas?



Admirava o desempenho dos cowboys e as locações das cenas.



10 – Você viu algum faroeste italiano? Eram melhores ou piores que os americanos?



Assis vários faroestes italianos, mas os americanos sempre foram melhores.



11 – Dos filmes estrangeiros, quais os melhores? E os filmes nacionais, quais os gêneros que lhe causaram admiração?



Filmes estrangeiros são vários gêneros que me agradaram. Dos filmes nacionais, gostei de Oscarito e das chanchadas carnavalescas.



12 – Você ficou nostálgico quando os cinemas foram fechados em Recreio? Alimenta algum desejo na sua volta? E isto seria possível hoje, nesta fase de crise?



Fiquei muito triste. Tenho esperança que algum dia serão reabertos, pois a Sétima Arte não pode faltar na cidade.



13 – Chegou a freqüentar o Cineminha do Sindicato dos Ferroviários? Freqüentou o “Cine Sonho de Criança”, no Clube Flor da Mocidade? Freqüentou o Cine Recreio?



Sim. Freqüentei todos. E graças ao Sr. Dorigo que, com seu esforço, nos proporcionou, essa grande alegria, exibindo filmes do Carlitos e Gordo e Magro, seriados e Bang-bang.



14 – Deixamos espaço final para outras considerações que julgar oportunas.



Agradeço ao Sr. Aristides Dorigo pela consideração. Mas não posso deixar de lado o fato de ser ele o melhor conhecedor em assuntos da Sétima Arte. Minha admiração e respeito.



Alaor muito grato por sua gentileza e atenção. Faço votos que, como você espera, algum dia o cinema possa voltar a funcionar nesta cidade, para maior alegria de seus fãs e crescimento de nossa cultura. Que você seja feliz ao lado de sua dedicada esposa e familiares.



Esta entrevista feita pelo Sr. Aristides Dorigo foi publicada no jornal O Repórter da Mata, Ano IV, Número 39, Leopoldina, 09/02 a 9/03/2001.



Alaor faleceu em Juiz de Fora no dia 7 de agosto de 2003.



Abaixo uma homenagem prestada pelo médico Douglas Lourenço ao Alaor.





ALAOR



Douglas Lourenço



“A vida não passa de uma viagem de trem,



Cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas



Agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros.



Quando nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos



Com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco:



nossos pais.



Infelizmente, isso não é verdade em alguma estação eles descerão



e nos deixarão órfãos de seu carinho, amizade e companhia insubstituível...



Mas isso não impede que, durante a viagem, as pessoas interessantes



e que virão a ser super-especiais para nós, embarquem.



Chegam nossos irmãos, amigos e amores maravilhosos.



Muitas pessoas tomam esse trem apenas a passeio,



outros encontrarão nessa viagem somente tristeza,



ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precisa



Muitos descem e deixam saudades eternas...”



Dia 7 de agosto partiu Alaor em sua última viagem e já chegou à eternidade. No “trem da vida” nos encontramos pela última vez em 1965, em Manhumirim-MG, onde estudava interno no Colégio Pio XI (1962/1965) e Alaor, Agente da Estação Ferroviária, era um elo de minha comunicação com meus pais. Diariamente das mãos de Alaor recebíamos (eu e Joglita, José Dilton, Silvio César (Bolachinha), Winston e Delano, Ari Pessamilo, Rubens (Genin Coveiro), Luiz Carlos, Edelmo, João Batista, José Heleno e Geraldinho Damasceno, Rafael e tantos outros...) de suas mãos, cartas e haveres que precisávamos de nossos pais, num tempo em que não existiam telefones celulares, sedex ou internet e que a comunicação por telefone fixo ou correio era ainda muito rudimentar. Ali , com a ajuda das mãos solidárias de Alaor, demos importantes passos que nos trouxeram à vida profissional que hoje desfrutamos. Como escreveu Dorigo, sua estrela continuará fulgurando em nossos corações. Uma estrela que nos apontava Recreio, além de uma mar de morros. Uma estrela que iluminava em nossas mentes a lembrança de nossos pais e reacendia nossas saudades. Sempre sorrindo, sempre solícito. Naquela estação ferroviária Alaor mais parecia um xerife a nos ajudar e defender. Receba Alaor, na eternidade, tudo aquilo que Deus preparou para aqueles que nesta vida amam o próximo como a si mesmo.



(Artigo publicado na Mar de Morros de outubro de 2003)





segunda-feira, 22 de outubro de 2007

BIOGRAFIA DO MEU AVÔ


Francisco Mercadante Jr., nasceu no dia cinco de maio de 1869, em Tramutola, Itália, falecendo em seis de agosto de 1955, com 86 anos de idade, em Pirapetinga, MG.
Sua esposa Maria Rosa Russo Mercadante, nasceu na Itália, talvez em Nápoles em vinte e três de agosto de 1876. Chegou ao Brasil com três anos de idade, tendo falecido a dez de maio de l937, aos 61 anos de idade, em Pirapetinga, MG.
Casaram-se a vinte e três de agosto, logo após a Proclamação da República. O ano não posso afirmar se foi em 1891 ou 1892. Foi o primeiro casamento civil realizado em Pirapetinga. Nessa época, Pirapetinga era subordinada à Comarca de Leopoldina.
Foi comerciante, comprador de café e outros cereais, que eram exportados para outras localidades. Foi o primeiro exportador de aves e ovos para o Rio de Janeiro. Foi presidente do Conselho Municipal de Pirapetinga, ainda distrito (não sei se era de Leopoldina ou Além Paraíba). Foi vereador pela Câmara de Além Paraíba, fundador da Irmandade do Santíssimo Sacramento na nossa paróquia de Santana em Pirapetinga. Fundou também a Caixa Escolar Cel. Ribeiro dos Reis desta cidade tendo exercido o cargo de presidente da mesma, no período de 1919 a 1922.
No início de 1900, houve em Pirapetinga uma epidemia de varíola. A Saúde Pública de Leopoldina recebeu os enfermos num casarão distante do povoado, denominado “Lazareto”. Os enfermos ficaram abandonados à mercê da sorte.
Quatro filhos de vovô contraíram a moléstia, sendo também transportados para o casarão. Vovô não os deixou sós. Foi para o casarão para tratar dos filhos Humberto, Miguel, Rosa Maria e Deodósio. Dos quatro, só escapou o Deodósio. Após o falecimento dos filhos, ainda permaneceu por lá durante quatro meses, tratando dos infelizes abandonados, dos quais, muitos morreram à míngua e mautratos. Com a graça de Deus, vovô conseguiu salvar algumas vidas.
A alimentação para os enfermos, inclusive roupa de cama e banho, saiam da casa.da vovó que não mediu esforços para preparar a alimentação que era levada ao casarão diariamente. Sanada a epidemia, vovô retornou muito magro e abatido pelo trabalho que teve para com os infelizes abandonados.
Vovô foi um herói! Custeou toda a despesa do casarão, por sua conta.

ESTUMAR



Armando Sérgio Mercadante

Estumar era provocar uma briga entre dois garotos. Os dois eram colocados no meio de uma roda formada por meninos e o estumador colocava a mão entre suas faces e dizia:

- Cospe na mãe dele!

Quando um cuspia, rapidamente o estumador recolhia a mão e o cuspe ia direto no rosto do outro. Se a briga não acontecesse , fazia-se um risco no chão e o estumador dizia:

- Quem pisar no risco estará pisando na sua mãe.

Se mesmo assim a briga não tivesse início, o estumador empurrava um contra o outro.

Quando a briga começava as torcidas logo se manifestavam com gritos e palavras de ordem.

Estumávamos as brigas, talvez influenciados pelos faroestes do cinema e dos gibis. É bom lembrar que quando a briga excedia em violência, às vezes, entrava em ação a turma do deixa-disso ou a mãe de um dos lutadores!

A primeira vez que dei um soco num garoto tive uma decepção danada:como minha mão doeu! O que assisti no cinema não aconteceu na realidade. Nunca vi mocinho sentindo dor na mão depois de um soco bem dado!

Não era um Rock Lane. Mas encarava. Já bati e apanhei muito. Coisas de moleque chegar em casa com o olho roxo e inchado. Lá vinha a bronca e a compressa com sal e vinagre.

Quem nunca teve uma atiradeira? Os guris cariocas diziam bodoque (ou estilingue?) como na música João e Maria interpretada por Nara e Chico : “guardava o meu bodoque e ensaiava o rock para as matinês”. Quem nunca soltou papagaio com manivela? (quem falava pipa e não usava manivela era menino carioca). Quero deixar bem claro que não tínhamos nada contra os meninos cariocas que apareciam em Recreio. Que me perdoe o Wilson Carioca, mas que a gente debochava deles, debochava! Detestávamos quando nos chamavam de guris. E aquela chuvarada de “s” em nossos ouvidos? Achavamos engraçado quando viam um boi ou um cavalo. Ficavam espantados como se estivessem diante de um ET.

Construíamos com alegria nossas atiradeiras, papagaios e zarabatanas. Para construir uma atiradeira, o primeiro passo era conseguir uma boa forquilha. As melhores eram da goiabeira. Depois os elásticos tirados da câmara de ar de bicicleta. O pedaço de couro, onde colocávamos o projétil, era obtido nos retalhos das sapatarias. Atirávamos pedras ou bolas de argila secas ao sol, e às vezes bolinhas de chumbo usados nos cartuchos dos caçadores de Recreio..

O papagaio era feito com papel de seda, varetas de bambu, o tradicional grude preparado com farinha de trigo e o cabresto onde era amarrada a linha, marca Corrente nº 24. O rabo e as rabiolas eram opcionais. Se ao subir inclinasse mais para um lado (usávamos a expressão “estava mariando”) era só colar uma rabiola e soltar de novo. Se continuasse mariando, colávamos mais rabiola até obter o equilíbrio necessário.

A preparação do cerau exigia uma técnica apurada. Eu colocava cacos de vidro no trilho da linha férrea e aguardava o trem. As rodas do trem trituravam os vidros transformando-os em pó. Recolhia o pó e misturava na goma arábica. Depois era só passar a mistura na linha (pedaço mais próximo do cabresto) e aguardar a vítima. Se a vítima também tivesse cerau o bicho pegava. Assistíamos a um verdadeiro duelo onde a habilidade dos oponentes era decisiva. Quando um papagaio tinha sua linha cortada e começava a cair a molecada corria em direção ao local do pouso forçado. Se caísse na “grimpa” de uma árvore insubível a frustração tomava conta de todos.

Feliz aquele que teve infância! Mais feliz se a infância aconteceu em Recreio.

Dedico esta crônica ao meu primo Robert Cunha (Dindinho), sepultado em Recreio no dia 27 de junho passado, aos 59 anos de idade. Você faz parte da minha infância, da minha vida. Que Deus lhe dê o descanso dos justos.

CURIOSIDADE

De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Vdaerde!

A LÓGICA


LÓGICA: a arte de bem pensar
Armando Sérgio Mercadante
“Por trás de cada fato
há sempre uma idéia e, apoiando todo pensamento,
há sempre uma lógica.
A Lógica desagrada ao gosto de muitos,
afigurando-se-lhes como
uma rede de sutilezas espinhosas,
mas se quisermos
dar o justo valor a cada coisa,
reconheceremos que esta Ciência
racional é a chave do resto...”
(Macaulay)
Meus alunos de Lógica do Colégio João XXIII em Recreio, devem lembrar-se do clássico silogismo Aristotélico: Todo homem é mortal./ Ora, Pedro é homem./ Logo, Pedro é mortal.
Desde a Grécia Antiga que filosofar significava buscar a sabedoria através do uso metódico da razão. Significa dizer que aos filósofos interessava a formulação de raciocínios que chegassem a resultados verdadeiros, e não falsos. Para alcançar esse objetivo, diversos pensadores lançaram-se na tarefa de analisar as estruturas dos raciocínios, organizando-as e classificando-as. Foi assim que nasceu a Lógica.
Para Aristóteles, a Lógica era o caminho mais seguro para encontrar e demonstrar a verdade. Em sua época, a filosofia estava envolvida com as seguintes questões: o que é a verdade (alethéia)? Como encontrá-la? E como demonstrá-la?
Existem algumas curiosidades interessantes no campo da Lógica Uma delas é o sofisma, que é um silogismo falso. Vejamos alguns exemplos.
Se tudo o que é raro é caro./ E se um Gol zero km por R$ 1,00 é raro/ Logo, é caro. Outros exemplos: Tudo o que tem pernas anda/ A cadeira tem pernas/ Logo, a cadeira anda. Tudo o que tem asas voa/ A xícara tem asas/ Logo, a xícara voa.
Quanto à forma os raciocínios acima estão corretos, embora as conclusões sejam falsas porque as premissas não são verdadeiras. O certo seria afirmar: nem tudo o que é raro é caro, nem tudo que tem pernas anda, nem tudo que tem asas voa.
Vejamos outro exemplo. Todos os gatos perfeitos possuem quatro patas./ Lulu possui quatro patas./ Logo Lulu é um gato perfeito. Este argumento é um sofisma, pois, da afirmação Todos os gatos perfeitos possuem quatro patas, não é válido concluir que Lulu é um gato perfeito pelo fato de Lulu possuir quatro patas. Em outras palavras, as premissas desse argumento não oferecem justificativas lógicas para validar sua conclusão.
Hoje ainda é muito comum o uso inadequado de generalizações, o que nada mais é do que confundir a parte com o todo. Exemplo: todo político é corrupto, todo prefeito rouba, não existe político honesto, os homens não prestam e assim por diante. São generalizações, que em alguns casos, acabam determinando atitudes. O holocausto dos judeus teve também sua origem numa generalização de Hitler.
Outra forma de generalização é o senso comum que consiste em uma série de crenças admitidas por um determinado grupo social e que seus membros acreditam serem compartilhadas por todos os homens. Exemplo: Homem que é homem não chora. Lugar de mulher é na cozinha. O brasileiro é um povo pacífico. Deus ajuda quem cedo madruga. Querer é poder. Filho de peixe, peixinho é.
Um tipo interessante de raciocínio é o Dilema. Observe o seguinte exemplo:
Um velho professor de Argumentação realiza um acordo com um de seus alunos. O aluno estaria desobrigado de pagar as lições no caso de perder a sua primeira causa. Findo o curso, o estudante não aceitou nenhuma causa. A fim de cobrá-lo, o mestre processou-o. O jovem defendeu-se com este argumento: Ou ganho a causa ou perco. Se ganhar, não precisarei pagar as lições (porque o professor terá perdido a ação de cobrança). Se perder, também não precisarei pagar as lições (em vista do acordo feito com o professor). Logo, não precisarei pagar as lições.
O professor, no entanto rebateu a argumentação deste modo: ou ganho a causa, ou perco. Se ganhar, o aluno precisará pagar-me (porque terei ganhado a ação de cobrança). Se perder, o aluno também precisará pagar-me (porque terá vencido sua primeira causa). Logo, o aluno deverá pagar-me.
Fica aqui um desafio para o leitor com este problema de inferências corretas. Os elementos são os seguintes:
1. Temos cinco casas.
2. O inglês vive na casa vermelha.
3. O brasileiro é o dono do cachorro.
4. Na casa verde se bebe café.
5. O espanhol bebe chá.
6. A casa verde está situada ao lado e à direita (à direita do leitor) da casa cinzenta.
7. O estudante de Psicologia possui macacos.
8. Na casa amarela se estuda Filosofia.
9. Na casa do meio se bebe leite.
10. O norueguês vive na primeira casa.
11. O senhor que estuda Lógica vive na casa vizinha à do homem que tem uma raposa.
12. Na casa vizinha a casa em que se guarda o cavalo, estuda-se Filosofia.
13. O estudante que se dedica a Estudos Sociais bebe suco de laranja.
14. O japonês estuda Metodologia.
15. O norueguês vive na casa ao lado da azul.
Pergunta-se: Quem é que bebe água? E quem é o dono da zebra?
Resposta :
Primeira casa: norueguês, amarela, Filosofia, raposa, água.
Segunda casa: azul, cavalo, espanhol, Lógica, chá.
Terceira casa: leite, vermelha, inglês, Psicologia, macacos.
Quarta casa: cinza, suco de laranja, Estudos Sociais, brasileiro, cachorro.
Quinta casa: verde, café, japonês, Metodologia, zebra.

CLÓVIS CUNHA


À direita fotografia tirada em 1945 da Banda de Música de Recreio
Clóvis Cunha, Totote, um nome que sempre lembrará os gloriosos tempos das Bandas de Músicas. Instrumentista da Lyra 1º de Maio e da Sociedade Operária Musical Flor da Mocidade, nasceu em 31 de dezembro de 1919 e faleceu em 17 de agosto de 1995. Além de música era poeta e trabalhava na cerâmica de seu irmão Estácio Robert Cunha como oficial produzindo vasos, moringas, talhas, dentre outras. Era um mestre no torno. Abaixo uma de suas poesias.

AMIGO DE FATO

No bom combate da vida
alguns louros logrei alcançar,
contristado também muitas vezes
a derrota não pude evitar.

Enfim quando o cume alcancei,
da ladeira que leva ao progresso,
milhares de mãos aclamaram
o meu retumbane sucesso!

Banhando-me em águas de rosas,
cercado de bajulação,
centenas de falsos amigos
disputavam minha atenção.

Mesquinha amizade que fica
onde meu interesse está,
amigos dessa espécie
diabos o levem pra lá!

Entretanto os amigos leais
que de fato amigos são meus,
nos revezes sempre estiveram
comigo graças a Deus!

Juntos lutando ombro a ombro,
jamais se afastaram da rota,
felizes com minha vitória
choravam na minha derrota.

O chefe de grande valor,
desta equipe aguerrida,
é homem a quem muito devo,
inclusivo devo-lhe a vida.

Tanto tempo o conheço
que lembrar é esforço vão
qual foi o dia exato
da nossa apresentação.

Dizem que sua alegria
foi muito grande e sem fim,
quando pela primeira vez
deitou os seus olhos em mim!

Este vulto cuja lembrança
do meu pensamento não sai
dentre todos meus bons amigos é
ele o maior: - "Meu pai".

domingo, 21 de outubro de 2007

MIGUEL ANDRIES, UM OPERÁRIO-PREFEITO




UM OPERÁRIO-PREFEITO

Miguel Andries nasceu em Porto Novo no dia 8 de abril de 1908 e faleceu em Cataguases em 19 de junho de 1994, vitimado pelo câncer. Morreu aborrecido com os políticos de Recreio terra que tanto amou. Antes de falecer deixou claro que não queria nenhum tipo de homenagem. Chegou a fazer um discurso na Câmara dos Vereadores manifestando o seu descontentamento. Depois que deixou a prefeitura chegou a passar dificuldades econômicas com sua pequena aposentadoria de trabalhador autônomo.
Filho de Maria Passos e Frederico Andries, viveu mais de sessenta anos em Recreio. Foi um recreiense de coração. De um família de sete irmãos foi o único que não se casou. Segundo sua sobrinha Niracy Andries Pires da Silva, presente em seu velório, "sua paixão proibida era Zizinha Fernandes".
Era um líder nato. Pessoa simples, honesta e empreendedora. Foi mecânico e especialista em instalações elétricas em máquinas de beneficiamento de arroz. Sempre participou de todas as comissões de festas benificientes.
Em 1958 foi o candidato do povo como candidato a prefeito vencendo João Perilo que representava os interesses dos fazendeiros e comerciantes. Tomou posse em 1º de janeiro de 1959 (ver foto onde está de terno preto do lado esquerdo do prefeito anterior Dr. José Antonio Monteiro de Barros que está sendo entrevistado). Foi a vitória de um operário que ousou enfrentar a elite de Recreio. Governou no período de 1959 a 1963. Foi também vereador no período de 1967 a 1971. Mesmo como prefeito jamais abandonou seu jeito simples de ser. Era comum encontrá-lo nos canteiros de obra com seu macacão de mecânico ajudando os trabalhadores. Certa vez uma pessoa vendo-o plantando no jardim perguntou onde poderia encontrar o prefeito da cidade. - Você está falando com ele, respondeu Miguel.
Miguel Andries foi um dos grandes responsáveis pela criação do Ginásio de Recreio em 24 de junho de 1956, enfrentando com coragem e garra todos os obstáculos que surgiam à sua frente. Teve também um papel importantíssimo na construção do novo prédio do Ginásio. Foi o primeiro Presidente do Setor Local quando a CNEG (Campanha Nacional de Educandários Gratuitos) encampou o nosso Ginásio. Exerceu a função de Presidente do Setor (órgão mantenedor do Ginásio) no período de 27 de setembro de 1959 a 28 de março de 1966.
Carnavalesco e organizador de festas fazia parte do do tradicional Clube dos Baetas, bloco carnavalesco do seu coração.
Remodelou o nosso jardim principal conseguindo que a Estrada de Ferro Leopoldina doasse um pequeno terreno que servia como depósito de lenha para alimentar as locomotivas. Ali construiu o atual lago artificial com o painel de azulejo onde mostra operários trabalhando na construção da via férrea(Ver fotografia acima). Na remodelação do nosso jardim principal teve a importante ajuda de Dona Rosa Vieira. Construiu também parte do prédio do atual Hospital São Sebastião.
Miguel era amigo da minha família. Foi colega de minha mãe, Dirce Araujo Mercadante, na juventude. Passava todos os dias lá em casa para tomar o cafezinho e conversar. Quando abria o portão chamava minha mãe, em tom de brincadeira, de Dona Dilce.
Guardo até hoje um presente que me deu quando eu era criança: um livro infantil c do Gato de Botas.
Na verdade Miguel foi um operário que ousou enfrentar a elite dominante e saiu vitorioso como o único operário-prefeito de nossa cidade até hoje.


PERSONALIDADE RECREIENSE
MIGUEL ANDRIES era, a meio século, uma destacada figura da sociedade recreiense. Vim a conhece-lo mais de perto quando o distrito de Recreio se tornou cidade em 1938.(...)
Sempre foi uma figura sociável, inteligente e criativa. Com a colaboração do povo de Recreio e de Dona Rosa Vieira, de saudosa memória, lutou para reaver da Estrada de Ferro Leopoldina, o pequeno espaço existente à frente da Estação Ferroviária de Recreio, no centro da cidade, entre as linhas férreas de Ubá e Carangola, ocupado como Depósito de Lenha, de três a cinco metros de altura, que imprimiam ao logradouro um péssimo aspecto urbanístico.
Vitoriosos construiram o atual coreto e jardim existentes, Algum tempo depois, já com o município instalado, do qual fui o primeiro Secretário-Contador, construiu comigo, Maria Tomasco, Alaide Malta e com o apoio da municipalidade, o Jardim do Botafogo , em que até os postes de iluminação foram feitos pelo Miguel Andries. Esse jardim veio a ser construído novamente, cinquenta anos depois, por meu filho, o arquiteto recreiense Luiz Celso Bretas Pereira, na gestão do Prefeito Dr. Geraldo Damasceno de Almeida, nosso primo. Curioso é que os meios-fios que copiei por desenho, em escala e que estavam sendo postos nas ruas de Belo Horizonte àquela época, foram encontrados intactos, no mesmo local onde haviam sido soterrados a um semi-século, vindo novamente servir à atual Praça!
Nos carnavais fazia carros alegóricos e decorações que asseguravam a boa apresentação do "Clube dos Baetas"!
Organizava, outrossim, bailes e festas comemorativas de aniversários da cidade, da Banda de Música 1º de Maio e de outras associações. Em festas domiciliares era sempre o colaborador indispensável; e chegou até a ser aplaudido, pela feitura e decoração de um belíssimo Bolo de Casamento.
Em determinada época foi eleito Prefeito do Município de Recreio: venceu políticos e imbatíveis adversários, venceu pelo seu espírito combativo, pelo seu valor e por suas amizades.
Não sendo político não tinha a Câmara para apoiá-lo e os seus adversários jamais permitiram qualquer reajuste de seus vencimentos "de dois cruzeiros por mês". Viveu de suas economias de seu trabalho. Para concluir.Miguel Andries sempre foi um defensor da Verdade e da Justiça. Como prefeito revelou sua profunda admiração a todo o povo e o município de Recreio. Construiu com a ajuda da população e os saldos bancários acumulados de festas, quermesses e outras fontes sem a formação de quaisquer associados, o Hospital São Sebastião. A família Andries os nossos sentidos pêsames.
Mauro de Almeida Pereira
(Artigo publicado no Jornal VOZ DA CIDADE em junho de 1994).

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

DAS TELAS DOS CINEMAS PARA A REALIDADE




Durango Kid


Alan Roky Lane


Armando Sérgio Mercadante

Segunda metade dos anos cinqüenta e início dos sessenta. Época de ouro do cinema em Recreio. Cine Eldorado e o Cine Sonho de Criança exibindo os seriados e os faroestes com nossos heróis. Época de colecionar capa de gibi e fotos catadas das tabuletas do cinema. Conseguir uma fotografia da tabuleta era um troféu invejado pelos colecionadores. Pedaços de fitas de filmes adquiridas com o operador da máquina de projeção e depois levada no Rubinho retratista para serem reproduzidas para serem coladas com grude, ou goma arábica, no caderno era um conquista invejável.

Nada mais emocionante do que uma luta entre o mocinho e o bandido. O cinema quase explodia. Batíamos com os pés no chão, assobiávamos e gritávamos desesperadamente. O mesmo acontecia quando o mocinho estava em poder dos bandidos amarrado numa cadeira e vinha chegando o xerife com seus companheiros para libertá-lo. Era uma emoção simplesmente indescritível. O cinema quase explodia.

Não gostava do Hopalong Cassid. Já Rocky Lane era duro na queda. Roy Rogers gostava mesmo era de cantar. Nunca entendi o porquê do título Rei dos Cowboys. Gostava mesmo era de cantar. Já o temível John Wayne triturava os adversários. Durango Kid era sensacional. Aldie Murphy (êta baixinho invocado) brigava magistralmente.

Das matinês saia nossa inspiração para a criação das quadrilhas. Tinha a quadrilha do alto da Igreja, da Rua Aragão, do Botafogo, da Campo Limpo e outros locais que não me lembro agora. O confronto entre duas quadrilhas era uma guerra ferrenha: pedradas, socos, tapas, arremessos com tiradeiras. O objetivo era sempre capturar o chefe da quadrilha. Na quadrilha do alto da Igreja a “chefa” era a Lereta (Denise Dutra). Boa de briga. A molecada tremia. Já pensou apanhar de menina!!!!!!!!?????

Cada quadrilha dominava seu território. Quando descobria algum intruso de outra quadrilha transitando em seu território a coisa ficava feia.

Um dia fui capturado pelo Reinaldo e Jorge Loçasso. Cismaram que eu era espião. Amarram minhas mãos e prepararam uma forca na parreira do quintal. Quando já estava nas pontas dos pés e o ar faltando, eis que chega dona Vanda que imediatamente exerceu com maestria sua autoridade materna libertando-me do enforcamento. Reinaldo e Jorge levaram uma bronca.

Minha quadrilha reunia-se atrás da Igreja Cristã. Lá traçávamos nossos planos e estratégias. Quando Dona Noemia chegava para limpar a Igreja a reunião encerrava. Era cebo nas canelas!

Certa vez o Robert Cunha (Dindinho), meu primo, vestiu-se de zorro e ousou penetrar no território do alto da Igreja. Foi uma perseguição digna de um faroeste dos tempos do Cine Sonho de Criança. Se não fosse a interferência de alguns pais o nosso zorro estaria fulminado! A turma da Lereta já tinha feito o cerco.

Bons tempos! Cinema, brincar de pique na rua, jogar as famosas peladas, precipício (proibido pela polícia), bilosca (bola de gude) e botão. Na Quarta-feira de cinzas, dormíamos mais cedo, de preferência na cama da mamãe, com medo da mula-sem-cabeça e do lobisomem. E o pior era que o Sr. Casa Nova morava na minha rua. Diziam que ele virava lobisomem.

Lembro-me com muita saudade do mês de maio. Mês das coroações. Nossa banda de música encantando-nos com seus dobrados. Fogos de artifícios explodindo nos céus. O frio, o cheiro de pólvora e do incenso que saía da igreja completava o cenário encantado onde transcorria nossa infância.

As Histórias do Tio Janjão, década de 50, programa infantil exibido pela Rádio Nacional duas vezes na semana às 17h30min horas, fazia um tremendo sucesso. Tio Janjão era interpretado pelo rádio-ator Alvaro Aguiar, conhecido galã. No cinema trabalhou nos filmes “Vidas solitárias”, “Asas do Brasil”, "O homem que passa”,” A inconveniência de ser esposa”, “O noivo de minha mulher”, "O dominó negro” e “Brumas da vida”. No teatro trabalhou com Bibi Ferreira na peça “Os amores de Sinhazinha”. Histórias do Tio Janjão foi apresentado primeiramente às Quartas-feiras, com apenas 15 minutos no horário da manhã. Na décima apresentação, eram tantos os pedidos, chegaram tantas cartas que a Direção Geral resolveu apresentá-lo duas vezes por semana. Quem não se lembra das estórias OS BRINQUEDOS ESQUECIDOS, O PORQUINHO FLAUTISTA, O RATINHO POETA E O MACACO QUE FOI REI POR UM DIA?

Recordo-me com saudades do Pé-Trocado, o nosso querido Tinuca. O apelido foi conseqüência de calçar os sapatos novos trocando os pés. Certa feita foi amarrado num poste da subida do morro da Igreja Cristã depois de levar uma surra da quadrilha da Aragão. Pé-Trocado ficou famoso ao cantar num programa de calouros num parque de diversões um grande sucesso do Miltinho: “Foi assim que a lâmpida apagou. E a vista escureceu(...)”.

Naquela época os valentões exigiam um lugar nas peladas ou então davam uma bicuda na bola. Dar uma bicuda na nossa bola era humilhante demais. Joirinho, irmão do Renan, constantemente exigia um lugar nas nossas peladas no campinho da Rua Campo Limpo. Ou então, bicuda na bola. Como era bom de briga, o jeito era deixá-lo jogar. Até que, para nossa alegria, Pé-Trocado deu-lhe uma tremenda surra. Virou nosso herói. Nunca mais o Joirinho apareceu por lá para exigir um lugar nas peladas.

O cinema fazia parte da nossa vida. E como fazia!



quinta-feira, 18 de outubro de 2007

II FESTIVAL DA POESIA DE RECREIO

A esquerda Armando Sérgio Mercadante recebendo o Certificado(abaixo) de Menção Honrosa das mãos do Prof.
Juarez em 18 de janeiro 1969 pela poesia Som-Humana-Técnica. Da direita para a esquerda Dr. Geraldo Damasceno, Sr. Dorigo, Maria Eugênia Magalhães, Dona Iris e Prof. Juarez.

Nos anos sessenta Recreio viveu um período rico em realizações culturais: Festivais da Canção, da Poesia,Encontro de Educadores, Semana Pedagógica, Semana da Família (1968), dentre outras.

3ª Semana da Família

Recreio – MG – 1968

Tema: “A família e o desenvolvimento”

Local: Prédio do Jardim da Infância Recreio Infantil

Horário: 20 horas

PROGRAMA

Dia 22 – Segunda : Abertura da Semana

“O Desenvolvimento dos Povos”. Pontos essenciais da doutrina social cristã na grande Encíclica do Papa Paulo VI apresentado pelo casal Itamar e Neide do MFC de Juiz de Fora. Debates.

Dia 23 – Terça: O problema da Família e o desenvolvimento: porque não existe um mundo familiar. Explanação ilustrada por um grupo de casais e um sacerdote.

Dia 24 – Quarta: A Família e a nossa comunidade hoje, pelo casal José e Diva Ferreira.

Dia 25 – Quinta: A Família e a nossa comunidade hoje, pelo casal Sandoval e Nely Lopes.

Dia 26 – Sexta: A educação como desenvolvimento da família, pelos professores Gilberto Peres de Oliveira e Maria Regina Albuquerque.

Dia 27 – Sábado: O diálogo da família e das famílias, pelo casal João e Lucy Malta.

Dia 28 – Domingo (9 horas): Missa da família, celebrada pelo Sr. Bispo Diocesano, D. Gerardo Ferreira Reis.

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Desenvolvimento é o novo nome da paz.


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

INSCRIÇÕES QUE O TEMPO NÃO PODE APAGAR

Vista parcial do centro
de Recreio

Fotografia do antigo Barracão
recentemente descaracterizado pela
Vale do Rio Doce

Armando Sérgio Mercadante

Desapareceu isso que antigamente permitia que se dissesse minha cidade, meu bairro? Homem de lugar nenhum serei alguém para mim mesmo?”

(AUZELE)



Podemos pensar nossa cidade com o coração onde locais, construções e acontecimentos possuem um valor sentimental. Podemos pensá-la também sob a ótica do urbanismo, que hoje em decorrência dos problemas enfrentados pelas grandes cidades ganha grande importância no cenário científico.

Temos que partir do postulado básico de que o homem precisa sentir-se bem em sua cidade. Não estou enfocando apenas a questão social como pobreza, desemprego e outras mazelas que engordam as estatísticas dos indicadores sociais de um país ou uma cidade e, confirmam a visão freudiana da impossibilidade da civilização. O meu enfoque principal é sobre os problemas urbanos que um prefeito de uma pequena cidade como Recreio pode resolver utilizando o pouco recurso disponível.

Robert AUZELE classifica os espaços urbanos da seguinte maneira: a) Espaços de –pressivos: os tristes, sujos, desertos, porque talvez a sua exploração não interessasse tanto aos seus possuidores; b) Espaços agressivos: caracterizados por ruas estreitas demais para uma multidão que necessita caminhar, ruas equipadas por um vasto aparelho de propaganda que agride os sentidos de várias maneiras, com anúncios luminosos alto-falantes e discos que as discotecas divulgam no maior volume. São os espaços também mais amplos onde os pedestres correm da agressão dos automóveis; c) Espaços de- preciativos: aqueles que se contrapõem ao valorativos, ou seja, enquanto habitar certo lugar confere prestígio, o mesmo não acontece com tantos outros que depreciam socialmente os seus moradores.

É bem verdade, que a classificação acima se aplica mais às grandes cidades. No entanto, podemos, por analogia, tirar boas lições e embasamento para uma ação responsável e planejada para uma cidade como Recreio.

Sabemos que o hábito de passear no jardim e na antiga rua do cinema deixou de existir em Recreio. Embora a televisão funcione como um imã prendendo as pessoas dentro de casa, é possível desmagnetizar esse poder e colocar o povo novamente na rua. Apenas um exemplo. Se tivéssemos uma banda de música apresentando-se pelo menos uma vez por semana, pessoas iriam assistir e, meu caro leitor, o efeito cascata poderia funcionar. O que precisamos é resgatar alguns valores do passado e torna-los presentes. Existem cidades do porte de Recreio que ainda acontecem serestas, retretas e outras atividades culturais.

O que percebo na minha terra é uma sensação de orfandade, talvez por falta dos líderes que outrora promoviam festas, eventos culturais e esportivos. O vazio deixado por essas pessoas ainda não foi preenchido. Esta é uma convicção que carrego dentro de mim e que me angustia.

Em 1968 Recreio experimentou um período rico em atividades culturais: festival da canção, da poesia, semana da família, semana das profissões, encontro de educadores, exposição de artesanato local, dentre outras. É só consultar exemplares do JR dessa época que os fatos estão lá.

Sabemos que são as idéias que movem o mundo. E idéias surgem de pessoas. Pequeri, cidade mineira do porte da nossa, tem o Festival da Canção que faz parte da agenda cultural das minas gerais.

Vi as réplicas do Rodin e experimentei um momento de felicidade. Quero outros. Quero a Banda de Música “cantando coisas de amor” nas ruas de Recreio. O nosso Coral dando seus recitais e, na época do Natal, entoando canções natalinas pelos principais pontos da cidade como acontece aqui em Juiz de Fora. Quero ver no palco da Associação Comercial ou no Centro Cultural, nosso grupo teatral esbanjando interpretação e o nosso grupo de danças fazendo sua exibição para a alegria da nossa gente.

Uma cidade com ruas limpas, arborizadas, praças bem cuidadas e planejadas dentro das normas técnicas do urbanismo humanístico, saneamento básico, calçadas conservadas tornam a cidade do homem um lugar gostoso e habitável.

Em algumas calçadas de Recreio ainda existem inscrições no piso que identificavam as casas comerciais: Casa Carcacena, Casa Nadinho, Bar Horiente, Padaria Recreio, Cartóri (o “o” já desapareceu), dentre outras. São inscrições que o tempo não pode apagar e nem serem substituídas por um piso novo. A História tem que ser preservada. Vai aqui uma sugestão para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura: precisamos preservar o patrimônio histórico da nossa cidade.

Um dia escrevi que Nosso Senhor do Bonfim não conhece Recreio. Quando estava apreciando as réplicas das esculturas do Rodin vi um vulto parecido com ele ao lado das obras. Acho que finalmente ele acolheu Recreio em seus braços. Pelo amor de Deus, não me digam que foi ilusão de ótica!

No dia 29 de julho passado Deus chamou minha Tia e Madrinha Arlete. Tia Arlete sempre me recebia com alegria e um sorriso cativante que guardarei com muito carinho e saudade dentro do meu coração.

sábado, 6 de outubro de 2007

NOSSAS BENZEDEIRAS


Pai Bendedito
de Aruanda


Armando Sérgio Mercadante
“Não acredito em bruxas.
mas que existem, existem”
(Ortega y Gasset)

Com os meus olhos arregalados e o coração atropelando o compasso acompanhava atentamente todos os passos do ritual das minhas benzedeiras. Por mais que me esforçasse não conseguia entender a linguagem que elas usavam para quebrar o quebranto ou cortar o cobreiro. Naquela época toda criança que se prezasse tinha que ter a sua benzedeira. Eu tive três: Catarina, Conceição e Amélia. Era só ficar com abrição de boca, insônia, quieto demais que o diagnóstico era infalível: oio-gordo, mau-oiado, quebranto. Se aparecesse coceira na pele e surgissem pontos vermelhos era cobreiro.
Nossas benzedeiras eram mulheres que com seus ofícios contribuíam para aliviar o sofrimento humano. Geralmente eram casadas, pobres, mães de alguns filhos, que conheciam rezas, ervas, massagens, cataplasmas, chás e simpatias, e tinham um quê de mistério, que lidavam com a magia, feitiçaria e bruxaria. Ela era uma cientista popular que possuia uma maneira muito peculiar de curar: combinava os místicos da religião e os truques da magia aos conhecimentos da medicina popular.
Seguem algumas jaculatórias usadas por benzedeiras:
          1) Espinhela caída:
Jesus Cristo quando andou no mundo, três coisas ele levantou: arca, vento, espinhela caída. Assim eu peço a vós que levanta esta arca pelo amor de Deus. 
2)Cobreiro
Na proteção do senhô/Que fez o céu e a terra,/Eu entrei em Roma, em romaria/Benzendo cobra, cobraria./Corto cabeça, corto meio, corto cobreiro./Mal entrei em Roma, romaria,/Benzendo lagartixa,, lagartixaria,/Corto cabeça, corto rabo , corto meio./Entrei em Roma, romaria,/Corto cabeça, corto rabo, corto meio, corto cobreiro./Mal entrei em Roma, romaria/benzendo sapo, saparia,/Corto cabeça, corto meio, corto meio, corto rabo,/Corto cabeça, corto cobreiro,/Com os poderes de Deus e da Virgem Maria.
          3)Quebrante, mal-olhado, olho ruim:
Com dois eu te vejo,/três eu quebro encanto/a palavra de Deus e a Virgem Maria é quem cura/Quebrante, mal-oiado e oio ruim,/Leve o que trouxes/Deus, benza (quem estiver lendo) com a santíssima Cruz./Deus defenda de mau-olhado, de quebrante, de macumba,/De feitiço, de malefício e de todos os males que lhe fizeram./Quem está fazendo ferro?/eu sou aço;/Quem está fazendo é o demônio/e eu vos embaraço, com os poderes de Deus, Jesus e a Virgem Maria.
4)Erisipela
São Pedro quando andou pelo mundo encontrou fulano ... com isipela, Isipela – isipelão, que ele tem no tutano, deu no osso, do osso deu na carne, da carne deu no sangue, do sangue deu na pele, da pele caiu no chão, isipela, isipelinha, isipelão.
         5) Dor-de-cabeça:
Saiu Juliana mais Fabiano/Encontrou Nossa Senhora./Ela perguntou o que tem Juliana mais Fabiano/Dor de cabeça, sinhora.Quer que eu ti sare?/Sararei Sinhora./Ajunta caco cum caco, muleira cum muleira/Estarei curado cum os puderes de Deus e da Virgem Maria.../Cãimbra de sol/Sereno somá/tia essa dô de cabeça/E joga nas ondas do mar./Deus é salvo, Deus é virge, Deus é claridade/Seu vosso dia/Sarai esta dô de cabeça com esta Ave Maria.
As jaculatórias eram rezadas sobre o local enfermo do corpo da pessoa que estava sendo benzida, e a benzedeira as repetia três vezes. Manipulava ramos de plantas (arruda ou guiné, pimenta malagueta ou fedegoso), ou o rosário acompanhado do gesto eficaz do sinal da cruz, antes, durante e depois da benzeção. Como parte do ato de benzer, as jaculatórias eram oferecidas a um santo de devoção da benzedeira: São Bento, Jesus Cristo, Nossa Senhora do Alívio, São Brás, Santa Efigênia ou Todos os Santos.
Na benzeção por mau-jeito ou rendidura , ao chamar o nome da criança, a benzedeira rezava o credo, apontando para o local enfermo. Riscava três cruzes de sal no mesmo local, alternando-as até completar a marcação que era feita num rosário de contas que, em pé, ela segurava. Finalizava o ritual chamando novamente o nome da criança, rezando um Pai Nosso e uma Ave Maria e suplicando a cura a um santo de sua devoção: São Judas ou Nossa Senhora da Aparecida.
Sobre a eficácia da benzeção, segundo a Profa. Elda Rizzo de Oliveira, em sua obra A BENZEÇÃO, publicada pela Editora Brasiliense, “a Organização Mundial de Saúde já recomendou aos países subdesenvolvidos que valorizassem seus curandeiros como meta para resolverem seus problemas de saúde até o ano 2000”.
Muitas pessoas afirmam terem sido curadas por benzedeiras. Outras, no entanto, dizem que não passa de crendice popular, tapeação.
Como dizia Shakeaspere: “existem mais mistérios entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia pode imaginar”.
Parodiando o grande filósofo espanhol Ortega y Gasset  ouso afirmar: não acredito em benzedeiras, mas que curam, curam.
A bênção Donas Sagá, Corina, Catarina, Conceição, Pititita, Rosa e Amélia.