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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

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sábado, 6 de outubro de 2007

NOSSAS BENZEDEIRAS


Pai Bendedito
de Aruanda


Armando Sérgio Mercadante
“Não acredito em bruxas.
mas que existem, existem”
(Ortega y Gasset)

Com os meus olhos arregalados e o coração atropelando o compasso acompanhava atentamente todos os passos do ritual das minhas benzedeiras. Por mais que me esforçasse não conseguia entender a linguagem que elas usavam para quebrar o quebranto ou cortar o cobreiro. Naquela época toda criança que se prezasse tinha que ter a sua benzedeira. Eu tive três: Catarina, Conceição e Amélia. Era só ficar com abrição de boca, insônia, quieto demais que o diagnóstico era infalível: oio-gordo, mau-oiado, quebranto. Se aparecesse coceira na pele e surgissem pontos vermelhos era cobreiro.
Nossas benzedeiras eram mulheres que com seus ofícios contribuíam para aliviar o sofrimento humano. Geralmente eram casadas, pobres, mães de alguns filhos, que conheciam rezas, ervas, massagens, cataplasmas, chás e simpatias, e tinham um quê de mistério, que lidavam com a magia, feitiçaria e bruxaria. Ela era uma cientista popular que possuia uma maneira muito peculiar de curar: combinava os místicos da religião e os truques da magia aos conhecimentos da medicina popular.
Seguem algumas jaculatórias usadas por benzedeiras:
          1) Espinhela caída:
Jesus Cristo quando andou no mundo, três coisas ele levantou: arca, vento, espinhela caída. Assim eu peço a vós que levanta esta arca pelo amor de Deus. 
2)Cobreiro
Na proteção do senhô/Que fez o céu e a terra,/Eu entrei em Roma, em romaria/Benzendo cobra, cobraria./Corto cabeça, corto meio, corto cobreiro./Mal entrei em Roma, romaria,/Benzendo lagartixa,, lagartixaria,/Corto cabeça, corto rabo , corto meio./Entrei em Roma, romaria,/Corto cabeça, corto rabo, corto meio, corto cobreiro./Mal entrei em Roma, romaria/benzendo sapo, saparia,/Corto cabeça, corto meio, corto meio, corto rabo,/Corto cabeça, corto cobreiro,/Com os poderes de Deus e da Virgem Maria.
          3)Quebrante, mal-olhado, olho ruim:
Com dois eu te vejo,/três eu quebro encanto/a palavra de Deus e a Virgem Maria é quem cura/Quebrante, mal-oiado e oio ruim,/Leve o que trouxes/Deus, benza (quem estiver lendo) com a santíssima Cruz./Deus defenda de mau-olhado, de quebrante, de macumba,/De feitiço, de malefício e de todos os males que lhe fizeram./Quem está fazendo ferro?/eu sou aço;/Quem está fazendo é o demônio/e eu vos embaraço, com os poderes de Deus, Jesus e a Virgem Maria.
4)Erisipela
São Pedro quando andou pelo mundo encontrou fulano ... com isipela, Isipela – isipelão, que ele tem no tutano, deu no osso, do osso deu na carne, da carne deu no sangue, do sangue deu na pele, da pele caiu no chão, isipela, isipelinha, isipelão.
         5) Dor-de-cabeça:
Saiu Juliana mais Fabiano/Encontrou Nossa Senhora./Ela perguntou o que tem Juliana mais Fabiano/Dor de cabeça, sinhora.Quer que eu ti sare?/Sararei Sinhora./Ajunta caco cum caco, muleira cum muleira/Estarei curado cum os puderes de Deus e da Virgem Maria.../Cãimbra de sol/Sereno somá/tia essa dô de cabeça/E joga nas ondas do mar./Deus é salvo, Deus é virge, Deus é claridade/Seu vosso dia/Sarai esta dô de cabeça com esta Ave Maria.
As jaculatórias eram rezadas sobre o local enfermo do corpo da pessoa que estava sendo benzida, e a benzedeira as repetia três vezes. Manipulava ramos de plantas (arruda ou guiné, pimenta malagueta ou fedegoso), ou o rosário acompanhado do gesto eficaz do sinal da cruz, antes, durante e depois da benzeção. Como parte do ato de benzer, as jaculatórias eram oferecidas a um santo de devoção da benzedeira: São Bento, Jesus Cristo, Nossa Senhora do Alívio, São Brás, Santa Efigênia ou Todos os Santos.
Na benzeção por mau-jeito ou rendidura , ao chamar o nome da criança, a benzedeira rezava o credo, apontando para o local enfermo. Riscava três cruzes de sal no mesmo local, alternando-as até completar a marcação que era feita num rosário de contas que, em pé, ela segurava. Finalizava o ritual chamando novamente o nome da criança, rezando um Pai Nosso e uma Ave Maria e suplicando a cura a um santo de sua devoção: São Judas ou Nossa Senhora da Aparecida.
Sobre a eficácia da benzeção, segundo a Profa. Elda Rizzo de Oliveira, em sua obra A BENZEÇÃO, publicada pela Editora Brasiliense, “a Organização Mundial de Saúde já recomendou aos países subdesenvolvidos que valorizassem seus curandeiros como meta para resolverem seus problemas de saúde até o ano 2000”.
Muitas pessoas afirmam terem sido curadas por benzedeiras. Outras, no entanto, dizem que não passa de crendice popular, tapeação.
Como dizia Shakeaspere: “existem mais mistérios entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia pode imaginar”.
Parodiando o grande filósofo espanhol Ortega y Gasset  ouso afirmar: não acredito em benzedeiras, mas que curam, curam.
A bênção Donas Sagá, Corina, Catarina, Conceição, Pititita, Rosa e Amélia.

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