Armando Sérgio Mercadante
“Com certeza se esqueceu. Ou então
felicidade é brinquedo que não tem”.
(Assis Valente)
Nos tempos de ouro da Radio Nacional não perdia um capítulo das estórias do Tio Janjão, do Anjo e do Jerônimo, o Herói do Sertão, acreditava ortodoxamente
Recreio se enfeitava para a chegada do grande dia. As músicas natalinas tomavam conta da cidade. A Missa do Galo era aguardada pelos fiéis. A Casa Araújo, Bizinho, Nadinho e Carcacena, e outros estabelecimentos comerciais, se enfeitavam para receber os fregueses grávidos do espírito natalino. Os fornos das padarias ficavam lotados das carnes que iriam fazer parte das ceias de natal.
No dia 24 de dezembro, às 5 horas da tarde procurava minha cama para dormir. Era muito grande a expectativa de encontrar os presentes ao lado dos meus sapatos. Ao mesmo tempo, não queria dormir para ver se pegava Papai Noel entrando pela chaminé da minha casa. Não tinha jeito. Na medida em que as horas iam passando, meus olhos pesavam e o sono acabava frustrando o meu desejo. Todo ano era a mesma coisa.
No grande dia, acordava e corria para a árvore de natal e lá estavam os meus presentes. Abria apressadamente os embrulhos e logo já estava brincando no jardim da minha casa.
O almoço era na casa dos meus avós maternos. O encontro com primos, tios e avós sempre foi muito agradável. Foi uma tradição que se manteve por muito tempo.
Não me lembro quando descobri que Papai Noel não passava de um bonito sonho inventado para alegrar nossa infância. Que me perdoem os psicólogos, se fiquei traumatizado com a descoberta da mentira até hoje não encontrei esse tal de trauma. E a Dona Cegonha? Mesmo com a barriga da mamãe crescendo a gente não esboçava nenhuma atitude cética. Quando arriscávamos uma pergunta os adultos tinham sempre uma explicação “absurda” , mas que satisfazia a nossa curiosidade. Não me lembro de ter visto uma cegonha voando pelos céus de Recreio com um bebê num lençol amarrado em seu bico. No mundo da fantasia não existe o impossível.
Na semana que antecedia ao grande dia, Mão-Pelada , o nosso inesquecível Papai Noel, saía pelas ruas com a roupa típica, barbas de algodão e um saco nas costas cheio de “presentes”. Usava um megafone para fazer propaganda da loja do Bizinho. Para nós, ver Papai Noel “ao vivo e em cores” era a realização de um sonho que não cansávamos de sonhar. É bem verdade, que não era igual ao tradicional velhinho: gordo , bochechas avermelhadas dirigindo o seu trenó conduzido por belos alces. Mas era o nosso Papai Noel! O que faltava na realidade a nossa imaginação infantil completava .E o nosso Mão-Pelada sofria aos nossos olhos uma verdadeira metamorfose, transformando-se no mais belo Papai Noel do mundo.
Obrigado Mão-Pelada pela alegria que nos proporcionou. Você faz parte das nossas belas recordações. Recordar o natal da minha infância é também vê-lo pelas ruas vestido de Papai Noel.
Sei que sou um privilegiado porque posso relatar essas recordações tão bonitas. Infelizmente, muitas crianças ainda sofrem na pele o desabafo do compositor Assis Valente: “Eu pensei que todo mundo/ Fosse filho de Papai Noel/ Com certeza se esqueceu/Ou então felicidade é brinquedo que não tem”.
É pena que o espírito natalino dure poucos dias. Impressiona-me como as pessoas ficam alegres, solidárias e descobrem como é bom fazer o outro feliz. A escolha cuidadosa de um presente é, na verdade, uma demonstração de amor. Findo o Natal, as coisas voltam como eram antes.
Um comentário:
Apesar dos meus 56 anos, me revi criança vendo a capa das Histórias do Tio Janjão. Ainda não esqueci o "lua, linda lua, linda como um queijo" do Ratinho Poeta, nem o sofrimento dos Brinquedinhos Esquecidos. Por isso, gostaria de saber de existe a possibilidade de adquirir esse inesquecível disco para presenteá-lo aos meus netos.
Agradeço, de antemão, a atenção que me possa ser dispensada.
Paulo César Fagundes Salomão
Rua Simplício Jaques, 452
Alegrete (RS)
paulocfsalomao@hotmail.com
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