Zezé, ponta-esquerda nato
ÉLCIO PAIOLA
Durante festejos de final de ano, é natural as pessoas se desligarem do noticiário esportivo e, consequentemente, muita gente não ficou sabendo da morte do ponteiro-esquerdo Zezé, ex-Fluminense, Guarani e Flamengo, no dia 30 de dezembro.
O mineiro Antonio José da Silva, natural de Muriaé, não se diferenciava da molecada da época, avessa aos estudos e com fascínio pela bola. Sabia controlá-la habilmente com a canhota, e por isso em 1976 já era jogador do Fluminense.
Na época, parte dos treinadores usava o chamado ponta falso, que recuava para ajudar a cercar os espaços do adversário no meio-de-campo. Zezé, contrariamente, era da escola antiga. Só participava do jogo com a bola nos pés. Assim, ao se desvencilhar do lateral, chegava facilmente ao fundo de campo, e fazia precisos cruzamentos. Também sabia fechar bem em diagonal, pegava bem na bola, e por isso de vez em quando fazia seus golzinhos.
Se com essa característica chegou à Seleção Brasileira em 1979, participando de dois jogos - dois empates -, torcia o nariz quando treinadores pediam para ajudar na marcação. "Não adianta. Não sei marcar", era a resposta áspera aos comandados, que se irritavam ao vê-lo parado em campo cada vez que perdia a bola.
Ainda no Fluminense, comemorou o título carioca de 1980, num time formado por Paulo Goulart; Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens; Delei, Gilberto e Mário; Mário Jorge, Cláudio Adão e Zezé.
Em 1982 se transferiu para o Guarani, numa troca pelo meia Ângelo (falecido). E se encaixou bem num ataque que tinha Lúcio, Jorge Mendonça, Careca e ele. E mais: um meio-de-campo que nos jogos em Campinas contava com outro meia de característica ofensiva, caso de Ernani Banana, e apenas um volante pegador: Éderson.
Desta forma, com Zé Duarte (falecido) no comando técnico, o Guarani primou pela ousadia ao jogar com quatro atacantes e, às vezes, até cinco. A recompensa foi à bela campanha no Campeonato Brasileiro, quando chegou à fase semifinal, despachado pelo Flamengo após derrotas por 2 a 1 no Rio de Janeiro e 3 a 2 em Campinas, com público pagante de 120.441 e 52.002 respectivamente.
No Campeonato Paulista daquela temporada, Zé Duarte optou por um time com mais pegada no meio-de-campo e escalou Banana como falso ponteiro-esquerdo, possibilitando que Júlio César auxiliasse Éderson na marcação. Logo, sobrou para Zezé, que chiou bastante da condição de reserva.
Não bastasse a insatisfação do atleta, uma bateria de exames feita pelo cardiologista Nabil Ghorayeb, que coordenava o Sport Check-up do Hcor (Hospital do Coração), constatou que ele tinha problemas cardíacos e foi proibido terminantemente de jogador futebol.
Evidente que Zezé não acatou o diagnóstico. Disse que não sabia fazer outra coisa na vida a não ser jogar bola, e, assim, o Guarani facilitou a sua transferência para o Flamengo, onde ficou até meados de 1983, passando, posteriormente, por Ceará, Santo André (SP) e Blumenau (SC), entre outros, até 1992.
Zezé correu risco desnecessário de sofrer enfarto no futebol, ainda mais pelo histórico da morte de um irmão cardíaco participando de uma pelada.
E agora, quando sonhava se firmar na função de treinador de equipes de segunda divisão do futebol mineiro, morreu aos 51 anos de idade, vítima de complicações renais.
Nota do blog: o autor enganou-se porque a causa foi enfarto.
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