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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

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sábado, 29 de setembro de 2007

A SEMANA SANTA EM RECREIO

Lenira Rocha Peres Mercadante

Passou o Natal, o Ano Novo, o Carnaval e agora estamos nos aproximando da Semana Santa. É um período do calendário litúrgico católico marcado pela preparação, recolhimento, reflexão, jejum e penitencia.

Mortas pelo passado e vivas no coração. Ainda guardo com carinho as lembranças das semanas santas da minha infância. As celebrações eram realizadas em Latim de acordo com os rituais em vigor antes do Concílio Vaticano II (1962). As cerimônias eram conduzidas em latim. Nas igrejas cobriam-se as imagens dos santos com um pano roxo. O roxo para nós estava ligado ao luto. Na sexta-feira da Paixão as rádios só tocavam música clássica, muitas pessoas não varriam as casas, guardavam o silêncio e faziam jejum. O clima sagrado tomava conta da cidade.

A Procissão do Encontro entre o Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores era um momento muito esperado. Na terça-feira os homens saiam da Capela dos Machados com a imagem de Nosso Senhor dos Passos e as mulheres da Matriz com Nossa Senhora das Dores. Acontecia então o doloroso encontro entre a Mãe e o Filho na praça em frente ao G.E. Olavo Bilac. O padre proclamava o célebre Sermão das Sete Palavras, que na verdade são sete frases:

1ª- Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.
2ª - Hoje estarás comigo no paraíso.
3ª - Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe.
4ª - Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?!
5ª - Tenho sede.
6ª - Tudo está consumado.
7ª - Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.

O povo ouvia emocionado o sermão. Algumas pessoas choravam.

Na sexta-feira realizava-se nas escadarias da Matriz Jesus Menino Deus, a encenação dos últimos momentos no Calvário. Fazia parte do cerimonial o canto da Verônica. O público ouvia e acompanhava atentamente num silêncio profundo o desenrolar da trama. Após a morte de Jesus ocorria o descendimento onde a imagem era retirada da cruz e dava-se início a procissão do Senhor Morto. Durante a procissão ouvia-se apenas o som da catraca e dos cânticos sagrados. No rosto dos fiéis a expressão de seriedade e tristeza. Após a procissão o esquife era colocado dentro da igreja para a cerimônia do Beijamento que se estendia noite adentro.

O encerramento da Semana Santa acontecia à meia-noite de sábado com a celebração da Missa da Ressurreição. Nesse momento a expressão de tristeza era substituída pela expressão de alegria. Os fiéis viviam o momento da alegria: Cristo ressuscitou. Terminada a Missa as pessoas se cumprimentavam desejando uma feliz páscoa.

No sábado da aleluia a criançada ficava eufórica aguardando a queima do Judas representado por um boneco de pano recheado de palha. O Judas levava pauladas e depois era queimado diante da gritaria de crianças e adultos.

Já era tradição em algumas famílias a canjica branca. Que delícia! Sem deixar de falar nos deliciosos peixes que eram preparados na sexta-feira santa.

Para nós crianças tudo era muito bonito, triste e misterioso. Em alguns momentos a fantasia se confundia com a realidade.

Para encerrar com chave-de-ouro, não poderia deixar de relatar um fato que me contaram ocorrido na última passagem do Pe. (Santo) Hygino por Recreio. Nas sextas-feiras santas nosso zeloso vigário pedia ao Joaquim do Padre, responsável pela manutenção técnica da torre, para desligar o sinal da televisão. Pedido feito, missão cumprida! E os telespectadores involuntariamente faziam sua penitência!

OBS: A nossa igreja foi construída no estilo espanhol. Talvez pelo fato do pedreiro que inciou sua construção ter sido meu avô Gregório Peres de nacionalidade espanhola.


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