LEMBRANÇAS DA FERROVIA
Armando Sérgio Mercadante
“Coisa esquisita é o trem
Quando sai de uma cidade.
Pra uns ele leva alegria
Pra outros deixa saudade”.
(Luiz Vieira)
Em 1960, quando cursava a segunda série ginasial, não queria nada com os estudos. Gostava mesmo era de tocar violão, ouvir música, sair com a turma e tentar conquistar os brotinhos. Com a entrega do Boletim Final minha sorte estava decretada: REPROVADO. Em 1961 engoli seco o gosto amargo de repetir a segunda série ginasial. Com uma semana de aula recebi do José Britto, Diretor do Ginásio, a maravilhosa notícia da minha promoção para a terceira série. Fui amparado pela Lei 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) que suprimiu o Latim do currículo escolar, matéria em que tinha sido reprovado. Mesmo assim, como castigo papai convocou-me para ajuda-lo na estação ferroviária onde aprendi telégrafo. Trabalhava durante o dia e a noite freqüentava o ginásio. Foi a época das históricas greves dos ferroviários. Quantas vezes uma composição carregada de frangos ou bois ficava parada na plataforma da estação aguardando o término da greve. Ajudava meu pai a dar água e alimentar os pobres animais até que o trem pudesse seguir o seu destino. Como papai era Chefe da Estação não podia fazer greve.
Gostava do ambiente da estação. O movimento dos trens, o telégrafo que não parava de desenrolar sua fita com os intermináveis pontos e linhas, o barulho da bilheteira autenticando os bilhetes dos passageiros, a movimentação dos viajantes e funcionários, a chegada e partida dos trens e o sino informando a saída da composição das estações do percurso.
Recentemente li com alegria a iniciativa da Prefeitura de Recreio de colocar em funcionamento o trem de turismo Recreio/Angaturama que será puxado por uma Maria Fumaça de 1880. Será a oportunidade para os recreienses e visitantes que nunca andaram de trem experimentarem a emoção de uma viajem no tempo. E para quem já andou de trem matar a saudade da Maria Fumaça que marcava presença despejando suas fagulhas nas janelas dos vagões de passageiros. Q uem não usava o guarda-pó corria o risco de ter a roupa furada por um pedaço de carvão em chamas.
O Barracão, palco de muitas histórias e das tradicionais Missas celebrados no dia 1º de Maio em ação de graças pelo Dia do Trabalho, foi reformado e descaracterizado. Se tivesse sido tombado...
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