No dia 16 de maio deste ano nossa
presidente empossou os membros da Comissão da Verdade que terá dois anos para
apurar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1985, período que
inclui a ditadura militar que terminou com a posse do presidente José Sarney em
15 de março de1985. A comissão tem a tarefa de esclarecer os fatos ocorridos sem
ter função punitiva. Os resultados das investigações serão considerados
história oficial do nosso país. Alguns paises estão fazendo a mesma coisa. Posso
citar como exemplo Argentina, Chile e Uruguai.
Não podem ser esquecidos, ocultados
e nem distorcidos fatos importantes que fazem parte da história de um país. E
para nós brasileiros a Comissão terá a função de impedir que os horrores da
ditadura militar, quando pessoas foram torturadas e algumas até à morte, caiam
no esquecimento.
Minha convivência com torturados
e famílias de desaparecidos mostrou-me um retrato fiel do que acontecia nos
porões do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e os centros de
tortura DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações e Centro de
Operações de Defesa Interna) e outros órgãos de repressão. Torturadores
treinados para machucar a pessoa por dentro sem deixar marcas externas e movidos
pelo sadismo não tinham limites em usar o pau-de-arara, choques elétricos, outros
métodos de tortura e a violência sexual. Sentiam prazer em ver o preso sofrer.
Em alguns casos queriam arrancar a confissão de quem não tinha nada a
confessar. Tive um colega de Leopoldina que estudava na Universidade Federal de
Juiz de Fora que foi preso e a família nunca mais soube do seu paradeiro.
Motivo: estava lendo O Capital de Karl Marx para fazer um trabalho de
Sociologia. Quem foi torturado sofre o trauma do sofrimento físico e moral a
que foi submetido. E as famílias dos desaparecidos ainda choram seus filhos
clamando por justiça. Quantas pessoas, inclusive , padres e freiras, caíram nas garras da ditadura porque queriam
a volta do estado de direito e sofreram na pele as brutalidades praticadas em
nome da segurança nacional. E outros que foram presos sem estarem engajados em
movimentos de resistência simplesmente porque foram “dedurados”. Na época
estabeleceu-se a prática da “deduragem”. Bastava apenas alguém dizer que fulano
era comunista para que ele fosse preso sem necessidade de apresentar provas.
Agora tomou conta dos noticiários
o livro MEMÓRIAS DE UMA GUERRA SUJA de Cláudio Guerra, ex-delegado do DOPS,
onde revela os bastidores de uma parte do trabalho de destruição da esquerda
durante os anos 70 e início dos 80. No livro ele “dá nome aos bois” citando
nome de torturadores e esclarecendo episódios ocorridos durante o regime
militar.
Tenho certeza que os membros da
Comissão da Verdade serão ameaçados e intimidados por aqueles que atuaram a
serviço da repressão e temem a revelação dos seus nomes. Muitos deles
declararam publicamente que nunca houve tortura. Então por que temem a verdade?
Acredito na solidez do nosso
estado democrático e na lisura e imparcialidade dos membros da comissão. Que a
verdade seja apurada, registrada e divulgada. Ainda existem muitas
interrogações do período a ser estudado que precisam de um ponto final.
Para quem deseja conhecer a dura
realidade da ditadura militar recomendo os DVDs Batismo de Sangue e Zuzu Angel.
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