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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

PLACA  NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

sexta-feira, 8 de maio de 2009

MARIA FUMAÇA

A BARONESA
Lisyt

A Estrada de Ferro Leopoldina foi aprimeira ferrovia implantada no estado de Minas Gerais. Servia de ligação entre a Zona da Mata mineira e a cidade do Rio de Janeiro.
Com o surgimento das estradas de rodagem, esta ferrovia foi se desestruturando e acabou sendo privatizada. Atualmente, algumas linhas ainda sobrevivem.
Lembro que por volta dos anos 50, quando ainda eram poucas as rodovias, este trem marcava o inicio das minhas férias. Ele paratia da Estação da Leopoldina por volta das cinco da manhã. O céu começava a clarear... Sonolenta, eu ainda tinha os olhos ardendo por ter acordado tão cedo.
Eu era menina e não gostava daquele trem mal cheiroso e sem conforto. Entretanto, ao embarcar, sentia-me invadida por grande entusiasmo!
Repleto de bagagem e passageiros, otrem apitava dando inicio a sua marcha compassada. O tempo de viagem até a cidade de minha avó. teoricamente seria de seis horas, mas sabiamos que levaria de oito a nove horas, já que os atrasos eram costumeiros.
Vagões de madeira. Acentos para duas pessoas, dispostos em fileira em cada lado do vagão; havendo a possibilidade de se virar o enconto do bando de modo a ficar um em frente ao outro. O centro formava um estreiro corredor, muitas vezes abarrotado por malas. Não sei quantas pessoas cabia em cada vagão, mas seis que muitos viajavam de pé ou sentados sobre as malas. Tudo puxado por uma locomotiva movida a vapor, conhecida por: "Maria Fumaça" em virtude da densa nuvem de vapor e fuligem expelida pela sua chaminé.
No final de cada vagão: o banheiro pequeno e mal cheiroso. Nele apenas o vaso sanitario vazado; já que os dejetos eram lançados ao longo dos trilhos enquanto o trem sacolejava, mal dando para o usuário se equilibrar. Junto a porta, do lado de fora, uma minúscula pia, que provavelmente, não teria água até o término da viagem. O trem ia se arrastando tal qual serpente; subindo serra... desbravando caminho, diminuindo distancia; levando alegrias e sonhos.
A máquina Maria Fumaça, deixava um rastro de fumaça e fagulhas, que, trazidas pelo vento penetravam nos vagões deixando a roupa dos passageiros chamuscada, suja e com cheiro desagradável. Tudo, entretanto, era superado e alegrava meu coração na antevisão das férias tão esperada.
Só mesmo a nostalgia do passado, nos leva hoje, a dizer: " que saudade!..." E lá íamos nós,rumo a subida da Serra de Petrópolis, quando então o sacolejar do trem seria mais lento, pois, na raiz da serra, usando cremalheira, outra máquina seria engatada no final do trem para ajudar na subida. Esta manobra de engate era feita com muitos vai e vem que levaria algum tempo, provocando os costumeiros atrasos. Apesar da lentidão,a subida da serra era agradável. Não só pelo frescor, o cheiro de mato e terra molhada, como pela movimentação de crianças ao longo da linha férrea, a gritar "Jornal!... jornal!... jornal!... Crianças que moravam por ali, longe de tudo, e que iam em busca de trocados, revistas ou alguma guloseima.
Oa passageiros se movimentavam. Todos se agitavam procurando alguma coisa para ofertar, atendendo aos apelos vindos de fora, que mais pareciam melódicos lamentos.(...) A menina dentro do trem também sonhava.
Este era sem duvida um momento de encantamento, que não mais sairia de minha memoria como uma imagem viva!(...) Eu, debruçada na janela contemplava ao longe: o pasto verde, o gado a procura de sombra, casebres perdidos no nada. (...)
Com a supressão dos ramais que abasteciam estas pequenas cidades, fico a imaginar o que terá sido feito delas? Pois eram alimentadas pelo movimento dos trens, e cresciam as suas margens... Muitas ficaram perdidas... As novas estradas de rodagem foram construidas longe do seu alcance.
Finalmente chegavamos ao tão esperado destino. Então o apito do trem parecia toque de corneta anunciando o paraiso! E apesar do cansaço, a alegria era tanta que nada se igualaria aquele momento.
Certamente, a viagem no retorno das férias não seria agradável.
Texto publicado no Recanto das Letras em 15/03/09. A página na internete é muito rica e agradável.


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