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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

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domingo, 17 de fevereiro de 2013

UMA CONVERSA COM FLÁVIO PERES


Levanta-te e desce à casa do oleiro e lá te farei ouvir sobre minhas palavras. Como o vaso que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele o vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer. Jeremias 18,1.4. Há 35 anos esta é a rotina de Flávio Peres, artesão sãojoanense que luta para que sua arte familiar, passada de geração em geração, perdure.


O Jornal SJN, da cidade de São João Nepomuceno-MG,  em sua edição de setembro de 2012 publicou uma entrevista com o oleiro Flávio Peres que publico na íntegra.
Jornal SJN: Como foi o seu primeiro contato com a arte da cerâmica em argila?
Flávio Peres: Tudo começou com o meu pai, que é da cidade de Recreio, e aprendeu o ofício de oleiro aos 13 anos de idade. Depois ele acabou se mudando para Niterói, onde trabalhou por dois anos, de 1948 a 1950, tendo inclusive, assistido à final do mundial daquele ano entre Brasil e Uruguai. No dia cinco de março de 1951 ele iniciou a arte da cerâmica em São João Nepomuceno. Ele acabou perdendo tudo em uma enchente em 1960, com cinco filhos pequenos, e sem a ajuda de ninguém, apenas de uma de suas irmãs, ele retornou o trabalho, ensinando a técnica  de cerâmica a três de suas crianças: Luis, Fábio e eu. O Luis formou em Direito e, atualmente,.trabalha em um escritório de contabilidade; o Fábio também deixou de se dedicar à cerâmica. Portanto, hoje, eu trabalho sozinho.

Jornal SJN: Há quanto tempo você se dedica a esta arte?
Flávio Peres: Eu comecei a trabalhar como oleiro em 1977, após servir o Exército. Sempre trabalhando nesta oficina, que pertence à minha família desde 1955.

Jornal SJN: Como é o seu acesso à matéria prima da cerâmica, a argila?
Flávio Peres: São João não é uma cidade que tenha uma boa argila. Por aqui, nós só encontramos o barro com mistura. O  único lugar que possui este material puro é em um terreno, que pertencia ao falecido Geraldo Pace. Obtive informações que o povo da Braúna também possui um barro de alta qualidade para a produção da cerâmica. Eu trabalho com o barro da cidade de Recreio, para misturar, já que ele tem mais liga - o que facilita tanto o trabalho, quanto a aprendizagem.

Jornal SJN: Como você percebe se a argila é de qualidade ou não?
Flávio Peres: A aprovação final  da argila é o fogo . Na hora em que eu queimo a peça é que dá para perceber. Se ela sair boa, trata-se de um barro de qualidade. Se não, tem que refazer o trabalho todo novamente. Por isso, eu não arrisco trabalhar com uma argila que eu não conheço. Em alguns casos só de olhar, ou pegar na argila dá para perceber se ela é boa ou não. A argila  tem que ter uma mistura, porque se uma argila for muito boa, ou forte, na hora da queima ela pode estourar a peça. Então, o ideal é combinar uma argila mais forte com uma mais fraca, assim pode-se conseguir um material de alta qualidade.

Jornal SJN: Você tem conhecimento sobre algum outro artista local que realiza este tipo de trabalho?
Flávio Peres: Não. Atualmente, eu sou o único sãojoanense que realiza este tipo de trabalho com cerâmica.

Jornal SJN: Existe algum outro espaço em que você divulgue o seu trabalho, além da oficina?
Fávio Peres: Não. Minha arte é produzida, divulgada e comercializada aqui mesmo, na oficina. Eu, particularmente, prefiro vender aqui mesmo, já que assim o cliente terá uma maior variedade de peças com um preço melhor. Além do mais, essa cerâmica é muito conhecida em toda São João e região. Eu recebo, inclusive, fregueses estrangeiros. Tem um caso especial de um senhor sãojoanense que há 40 anos residia fora da cidade. Quando ele chegou ao municipio, a primeira pergunta que ele fez foi se a cerâmica ainda exisrtia, ao saber que ela ainda funcionava, no mesmo lugar, ficou muito alegre por esta arte não ter acabado. Até a TV Alterosa, de Juiz de Fora, veio aqui fazer uma matéria, no ano passado.

Jornal SJN: Você já disse que é o único de sua família que continuou com a cerâmica. Você tem o desejo de passar esta arte para as futuras gerações?
Flávio Peres: Sim, a maior vontade que eu tenho é passar esta arte para frente. O grande sonho que eu tenho é criar uma escola onde eu possa ensinar a comunidade sãojoanense a trabalhar com a cerâmica para que ela não acabe. A idade está chegando, já estou com 55 anos, se eu parar o trabalho hoje, a arte ceramista de São João Nepomuceno acaba.

Jornal SJN: Você percebe algum interesse da comunidade sãojoanense em aprender a arte da cerâmica?
Flávio Peres: Todas as pessoas que vem à minha oficina me perguntam se eu não quero dar um curso, ensinar a minha arte. O  interesse principal vem das mulheres. Muitas me falaram que iriam arrumar um grupo de pessoas para montar uma turma para o curso. As crianças também demonstram muita vontade de aprender a técnica. O problema é que aqui eu não tenho o espaço nem o equipamento necessário para poder ensinar a cerâmica.

Jornal SJN: Qual é o grau de dificuldade para a aprendizagem da técnica?
Flávio Peres: Não é difícil aprender, basta a pessoa ter uma boa vontade e trabalhar bastante. Eu, por exemplo, dos meus três irmãos fui o que tive maior dificuldade. Meu pai chegou a pensar que eu não conseguiria aprender, mas com boa vontade e trabalho duro eu estou aqui até hoje, tirando o meu sustento da cerâmica. Assim como meu pai, que criou cinco filhos trabalhando como artesão.

Jornal SJN: De que tipo de apoio você precisaria, da Prefeitura, por exemplo, para poder criar o curso de cerâmica em Sâo João?
Flávio Peres: O ideal seria que a Prefeitura me contratasse para ensinar. Com um espaço próprio, um galpão, por exemplo. Um caminhão para pegar o barro na Braúna também seria de grande utilidade e, acredito, não custaria tanto dinheiro, ou trabalho, à administração do município.

Jornal SJN: Tem algum recado que você quer deixar para os leitores do SJN?
Flávio Peres: Eu gostaria de ressaltar que o trabalho de cerâmica pode servir de fonte de renda a muitas pessoas. Muita gente da cidade e de fora também, vem até aqui para comprar as peças para trabalhar com pintura. O resultado final é muito bonito e rentável. Outro ponto importante é que este serviço também é muito utilizado para tratamento de pessoas com depressão. Outro dia, veio um senhor que reside em São Paulo, me convidando para ir até lá dar aula para os pacientes com depressão. Mas eu não tenho interesse nenhum em sair. Meu interesse maior é ficar na minha cidade, o lugar que eu gosto, onde vivi todos os momentos da minha vida.

O autor deste blog sugere a Secretaria Municipal de São João Nepomuceno criar um curso livre de cerâmica tendo o Flávio como professor.

 


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