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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

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terça-feira, 19 de abril de 2011

OS PERIGOS DA SUPERPROTEÇÃO


Lenira Rocha Peres Mercadante
(Psicóloga)

"Se você não consegue lidar com os limites dos outros,
é porque você não consegue lidar com os seus limites.
A rejeição é um processo de ver-se. Toda vez que eu
quero buscar no outro o que me falta, eu o torno um
objeto. Eu posso até admirar no outro o que eu não
tenho em mim, mas eu não tenho o direito de fazer
do outro uma representação daquilo que me falta.
Isso não é amor, isso é coisa de criança. Amar alguém
é viver o exercício constante, de não querer fazer do outro
o que a gente gostaria que ele fosse.
A experiência de amar e ser amado é acima de tudo a experiência do respeito.(...)".
(Pe. Fabio de Melo)

Assistindo alguns capítulos de Insensato Coração que é levado ao ar pela Globo, percebi o importante papel vivido por Wanda de mãe superprotetora. A superproteção é um tema de grande relevância para os pais na educação dos filhos. É delicado e difícil, principalmente neste mundo tão conturbado onde a violência e os usuários de drogas aumentam progressivamente. O que me assusta é que crianças, adolescentes e jovens precisam de modelos positivos para serem imitados.
Wanda tem dois filhos: Pedro que é bom e Léo desajustado. Ela criou Léo levada por pensamentos, sentimentos e atitudes equivocadas. Superprotegeu o filho esquecendo que cuidar demais estraga. Tudo em excesso faz mal. Deu para perceber que ela passou a vida superprotegendo Léo. A dosagem de amor, carinho, proteção e ajuda foi exagerada acabando por sufocar o filho tornando-o uma pessoa desajustada, fria e capaz de qualquer maldade. É bom lembrar que a superproteção também é uma forma de rejeição na medida em que você anula a personalidade do filho. Em casos assim cria-se uma criança, um jovem que se transforma num adulto dependente e sem iniciativa porque a mãe fez tudo por ele ou então uma pessoa revoltada.
Crianças de zero a seis anos superprotegidas tendem a apresentar timidez e tornarem-se egoístas. De sete anos até a adolescência, podem surgir agressividade e dificuldade em demonstrar sentimentos. De dezoito anos em diante, muita insegurança, egoísmo e dificuldade de relacionamento.
Existem duas formas de superproteção materna: a simbiótica, quando mãe e filho não conseguem se afastar um do outro e parasitária, quando a mãe não desgruda do filho.
A criança testa os pais para ver até onde pode ir. Se não for estabelecido limites, ela sente -se dona da situação apelando depois para a chantagem emocional, mentira ou agressividade.
Os pais devem dizer não, quando necessário. A formação do caráter é fundamental para preparar o filho para a vida social, emocional e profissional. Princípios morais são a base do caráter. Segundo especialistas os pais devem impor limites, colocar regras e dar bons exemplos, agindo com firmeza e carinho.
É na infância que a personalidade da criança é formada. O que é ensinado e vivenciado pela criança é de grande importância para o seu desenvolvimento.
Um testemunho muito significativo foi dado, numa entrevista, pela Dona Edi, mãe do grande terno italiano André Bocelli que ficou cego na infância em consequência de glaucoma. Graças à maneira como ela o educou, estudou música e fez advocacia e doutorado em Direito e hoje é um cantor consagrado internacionalmente.
Alguns trechos da entrevista são exemplos para a educação dos filhos. É uma história comovente pela dor de descobrir a doença do filho e a coragem com que ela lhe ensinou a superar sua deficiência. "Eu soube cedo que meu filho ia perder a visão. Para lhe ajudar a tornar-se um homem, eu esqueci a piedade e para me dar força havia uma fé muito forte. (...)". "Um tempo atrás eu encontrei uma frase que me fez entender que eu tinha razão quando li em um livro de Freud: "Se um pái ama seu filho, tem de criar dificuldade na vida dele". Eu realmente fiz bem então, em não poupar Andréa das lágrimas ou da dor".
Edi Bocelli nos conta que a determinação dela estava quase transtornada. "Eu decidi que se quisesse que meu filho se tornasse um homem, não havia outra alternativa: não deveria ter piedade. Eu tive que achar tal força dentro de mim, era terrível porque era quase impossível não sentir dor na frente daquele menino vivaz como prata luminosa, com um olhar que ficava mais vazio a cada dia. Com minhas lágrimas, eu o teria condenado a infelicidade. Eu teria feito dele uma vítima, e isso continuei repetindo para mim mesma: nenhuma piedade e nenhuma mentira". Esta era a receita da senhora Edi. "Em uma tarde em casa, em frente da janela ele me fez uma pergunta que era um pedido de alguma esperança: "quando eu estiver mais velho eu verei a casa de Poldo?". Você não verá, mas você verá outras coisas que nós não podemos ver. Nosso Deus nos dá roupas de acordo com o frio. Eu agradeço nosso Deus porque Andréa vive da mesma maneira na qual ele canta, com o coração aberto. Ao lado de nós há sempre um grande anjo da guarda, nossa grande fé. Certa vez numa peregrinação em Lourdes, Andréa entrou na gruta de Nossa Senhora com o padre, nosso amigo, o mesmo que o casou depois. Só recentemente ele me contou o diálogo entre eles. Andréa confidenciou para o padre: "não, eu não pedi isso. Você não pediu para sua visão ser restabelecida? Então o que você pediu? André respondeu: serenidade, Sim. Seguramente Nossa Senhora deu este presente para meu filho e agora ele dá este presente aos outros".
Conclusão: temos que criar nossos filhos para serem independentes, livres e capazes de tomar decisões e enfrentar os problemas do dia-a-dia. Colocar o filho na redoma é anular sua personalidade e torná-lo incapaz de resolver os problemas da vida. Superproteger é uma atitude doentia que nega ao outro o direito de ser ele mesmo. É querer viver a vida do filho.
Nota: Artigo publicado no fanzine Mar de Morros - Edição 112 de 2011)

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