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PLACA NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

PLACA  NA ESTRADA DE CONCEIÇÃO DA BOA VISTA NAS PROXIMIDADES DO COLINA CLUBE

sábado, 29 de setembro de 2007

THE LEOPOLDINA RAILWAY(*)


Armando Sérgio Mercadante

“A Estrada de Ferro Leopoldina foi a primeira estrada de ferro construída em Minas Gerais. Surgiu da iniciativa de fazendeiros e comerciantes da Zona da Mata Mineira.para transportar a produção das fazendas que era transportada em lombo de burros, através de imensas tropas de muares que desde as regiões mais remotas, chegavam até os centros consumidores mais distantes atingindo os portos do litoral”.

Valeu Celso! Agradeço sensibilizado os versos que você me dedicou. Além da beleza fazem uma reflexão sobre a importância do sentimento na criação literária. Aproveito para parabenizar o Alexandre pelo artigo sobre seu pai Zé Carrano. Estive algumas vezes com ele no antigo Palácio da Saúde em Juiz de Fora. Zé Carrano sempre foi conhecido pela sua competência, responsabilidade e disposição em ajudar as pessoas. De fato um exemplo de profissional que deve ser imitado e um orgulho para nossa mãe Recreio.

Entrei no sitio do Museu de História e Ciências Naturais de Além Paraíba – http://www.museuhcnaturais.org.br/ - Estão vendendo o DVD Além da Ferrovia cujo conteúdo é o resgate de fotos de algumas das principais Estações mineiras e fluminenses da Estrada de Ferro Leopoldina. Com todo respeito aos idealizadores e produtores do documentário a EFL merecia uma obra melhor. Pecou pela falta de criatividade, informações, depoimentos e fundo musical adequado.

No sitio do Museu encontrei algumas informações interessantes dobre a EFL em Minas Gerais.

A Estrada de Ferro Leopoldina foi a primeira a ser construída em Minas Gerais. Surgiu da iniciativa de fazendeiros e comerciantes da Zona da Mata Mineira para transportar a produção das fazendas que era conduzida em lombo de burros, através de imensas tropas de muares que desde as regiões mais remotas, chegavam até os centros consumidores mais distantes atingindo os portos do litoral. É importante ressaltar que a economia brasileira do século XIX foi marcada pela expansão da lavoura cafeeira, que transformou o Sudeste na região mais importante do país. Juntamente com o aumento do mercado consumidor europeu e americano, foi o fator determinante para essa expansão. Esse foi o fator primordial para a instalação dessa ferrovia.

É importante lembrar que o nome Leopoldina, como muitos pensam, não é uma homenagem à Imperatriz Leopoldina. Em 1871 foi autorizada a construção de uma estrada de ferro que partindo de Porto Novo do Cunha tivesse como destino final a cidade mineira de Leopoldina. A Companhia que então se organizou adotou o nome “COMPANHIA ESTRADA DE FERRO LEOPOLDINA”.

No dia 08 de outubro de 1874 foram abertas ao tráfego as três primeiras Estações, nos quilômetros 3 (São José – em São José d’Além Parahyba), 12 (Pantano – atual Fernando Lobo) e 27 (Volta Grande). Na inauguração compareceram Sua Majestade o Imperador Dom Pedro II, diversos membros do Corpo Legislativo, o Ministro da Agricultura Conselheiro José Fernandes da Costa Pereira, os Conselheiros Christiano Benedicto Ottoni e Ignácio Marcondes Homem de Mello. Os Drs. Manoel Buarque de Macedo, Bento Ribeiro Sobragy e muitos outros.

Para a inauguração a frota de material rodante incluía cinco locomotivas, sendo duas Rogers, duas Baldwin e outra de fabricação Belga. Ostentavam os seguintes nomes: Visconde de Abaeté, Conselheiro Theodoro, Godoy, Cataguases e Pomba. Havia ainda 48 vagões de carga e 8 carros de passageiros”.

Os trabalhos de construção prosseguiram com rapidez, inaugurando em curtos intervalos de tempo as estações de São Luiz e Providência. Em julho de 1877 foram entregues ao tráfego as estações de Cataguases e Leopoldina, cerca de 120 quilômetros do início da estrada de ferro.

No sitio dos Amigos do Trem, http://www.trembrasil.org.br/, encontrei uma interessante informação sobre as locomotivas:“Uma locomotiva move-se, arrastando todo o trem, porque suas rodas comprimem os trilhos, dando origem a uma força de tração que deve ser superior à força da inércia do mesmo. Por isso, as rodas são tão numerosas e grandes. Quanto maior o número de eixos motores e, conseqüentemente, de rodas, maior será a força de tração. São três os tipos de rodas de uma locomotiva. Na parte da frente ficam as rodas-piloto, que não recebem impulso direto do motor; são pequenas e deslizam facilmente pelas curvas, servindo de guias para as outras. A seguir, vêm as rodas motrizes acopladas e, por fim, as pequenas rodas portantes, cuja função é a e sustentar a parte posterior da máquina. Toda locomotiva pode ser classificada pelo número de rodas de sua combinação (Sistema Whyte). A numeração 4.6.2, por exemplo, significa 4 rodas-piloto servindo de guias, 6 rodas motrizes acopladas e duas portantes, que suportam o peso da fornalha.”

Com uma pontinha bem grande de inveja pergunto: será tão difícil assim construir um Museu em Recreio?

Em tempo. Encontrei com o Jouglas Lourenço que me lembrou do Samba do Crioulo Doido onde Sérgio Porto, Stanilaw Ponte Preta, atribui, erroneamente, o nome Leopoldina à nossa Imperatriz. “Assim se conta essa história/ Que é dos dois a maior glória/ Da. Leopoldina virou trem/ e D. Pedro é uma estação também.”

PS Cópia da Carta de Fiança assinada em14 de novembro de 1924 pelo Sr. Manoel Marcellino Araujo e Rita Roque Araujo pais do meu avô Sebastião Araujo como exigência para sua admissão na EFL. O valor da fiança foi de 3.000$000 (treis contos de réis).

"The Leopoldina Railway Company Limited

Os abaixo assinados, Manoel Marcellino Araujo e sua mulher D. Rita Roque Araujo, proprietario, residentes em Recreio, se responsabilisam como fiadores e principais pagadores, perante a The Leopoldina Raiway Company Limited até a quantia de 3.000$000 (treis contos de reis) como fiadores do Smr Sebastião Araujo por prejuizos que o mesmo possa causar à Companhia. dirante o período em que permanecer como sleu empregado, não podendo, porem levantar a fiança se, previo aviso de 3 mezes . No caso de algum desfalque , se obrigam a entrar immediatamente com a quantia até a importancia desta fiança, lógo que sejam intimados para tal fim pelo representante da Companhia. Se o empregado afiançado quizer retirar-se da Companhia não poderá levantar a fiança sem que sejam tomadas todas contas e verificadas todas as suas responsabilidades como empregado da Companhia.

Recreio, 14 de novembro de 1924.

Manoel Marcellino Araujo

Rita Roque Araujo

José Carlos Ferreira

Jorge de Oliveira Horta"

(*) FERROVIA





AO GENERAL DA BANDA

Armando Sérgio Mercadante

Seu toque de clarim era primoroso. Aprendeu quando era Fuzileiro Naval no Rio de Janeiro. Vindo para Recreio , matriculou-se no Curso Ginasial e assumiu o comando da fanfarra do Ginásio. Ensinou-nos o que foi possível ser ensinado em função dos recursos instrumentais da nossa fanfarra: tipos de toques, evoluções, rufar dos tambores, bumbos e taróis. Fomos aprendizes felizes, pois admirávamos nosso mestre e vibrávamos com cada ensinamento aprendido . Nos desfiles de 7 de Setembro éramos sempre aguardados pelo público. As exibições aplaudidas. Sentíamo-nos orgulhosos e felizes. Nossa humilde fanfarra era grande demais para os nossos corações de discípulos. Com nosso uniforme de calça branca e jaqueta azul celeste, seguíamos atentamente as instruções e os sinais do nosso comandante. Tudo saia impecável, graças aos ensaios, a nossa competência e ao comando firme do nosso “General da Banda”.

Fui corneteiro com o Nelcy (nosso querido Moleque Bonito) e o Silvio (César Bangu). Lembro-me dos ensaios de corneta na casa do Moleque Bonito na Grotinha. Coitada da vizinhança! O jeito foi ensaiar no alto do pasto...

Francisco Adão, o nosso querido Chico Adão, ferroviário por ofício e General da Banda por vocação, era também exímio tocador de trombone-de-vara. Tentou criar uma escolinha de música em Recreio. Eu e o César Bangu fomos os seus primeiros alunos. Para não fugir da regra recreiense começou e não terminou. Seu sonho, como o de tantos outros, era ,quem sabe, assim como Fênix ressurgiu do pó, fazer também ressurgir do pó da má vontade e do desinteresse a nossa Banda de Música. Muitos sonharam e não conseguiram. Certa vez, Pe. Juarez Augusto assumiu esse desafio. Sonhava em oferecer uma escola de música no João XXIII e, como conseqüência, ver a banda “cantar coisas de amor”. Entrou em contato com o Sr. Milagres e esbarrou na questão econômica. Nosso grande maestro aceitava o cargo em troca de um salário mensal que não era muito. Pe. Juarez ficou entusiasmado e partiu para a ação, como era sua característica, sem conseguir as pessoas que iriam contribuir mensalmente para garantir o salário, mais do que justo, do maestro. E o sonho, mais uma vez, foi adiado.

Será que ainda existem os instrumentos da Banda de Música? Nunca entendi porque nenhum dos ex-integrantes nunca manifestaram interesse em vê-la de novo na rua!

Naquela época, anos 60, ao aproximar o 7 de setembro, nos dois últimos horários, o Ginásio ensaiava nas ruas centrais de Recreio sob o comando do diretor José Marcos da Silva Brito, auxiliado por alguns professores. A fanfarra garantia a cadência da marcha. Aproveitávamos para treinar as evoluções , as variações das batidas e os toques de corneta.

Certa vez fomos convidados para fazer uma exibição no aniversário do Ginásio de Laranjal. Caprichamos. Vale aqui registrar o incidente ocorrido. Fazia parte das comemorações o encerramento com um baile no clube da cidade. Nosso colega Dilson foi barrado na porta porque era negro. José Brito fechou a questão: ou entra o Dilson ou vamos todos embora. Fomos embora. O preconceito venceu. Foi uma situação constrangedora. Situação esta que, por estranha ironia, vivíamos tranqüilamente em Recreio, com as nossas consciências adormecidas, na época de ouro dos bailes na Associação Comercial quando os negros não podiam entrar porque o clube era só para os brancos. Enquanto que no Clube Flor da Mocidade, clube dos negros, os brancos tinham livre acesso! Aos que não conhecem essa história vergonhosa que um dia fez parte (ou será que ainda continua?!) da nossa cidade, fica aqui registrada para a posteridade. Só um detalhe: Francisco Adão e o Maestro Milagres eram negros. Assim como tantos outros irmãos que contribuem e contribuíram para o engrandecimento da nossa Pátria e da nossa Recreio.

O grande Pastor Martin Luter King, prêmio Nobel da Paz em 1964, que lutou pela igualdade entre brancos e negros nos Estados Unidos nos anos 60, usando como arma o amor, a paz e a palavra de Deus, foi assassinado pela intolerância preconceituosa. Seu filho deixou-nos essas belas palavras que transcrevo abaixo:

“Aos nossos mais implacáveis adversários diremos: corresponderemos à vossa capacidade de fazer sofrer, com a nossa capacidade de suportar o sofrimento. Iremos ao encontro da vossa força física com a nossa força do espírito. Fazei-nos o que quiserdes e continuaremos a amar-vos. O que não podemos em sã consciência, é aceitar as vossas leis injustas, pois tal como temos a obrigação moral de cooperar com o bem, também temos o de não cooperar com o mal. Podeis prender-nos e amar-vos-emos ainda. Assaltar as nossas casas e ameaçar os nossos filhos, e continuaremos a amar-vos. Enviai os vossos embuçados perpetradores da violência espancar a nossa comunidade quando chega a meia-noite, e, quase mortos amar-vos-emos ainda. Tende porém, a certeza de que acabareis por ser vencidos pela nossa capacidade de sofrimento. E quando um dia alcançarmos a liberdade, ela não será só para nós; tanto apelaremos para a vossa consciência e para o vosso coração que vos conquistaremos também, e a nossa vitória será um dupla vitória. O amor é a força mais perdurável do mundo. Este poder criador, tão belamente exemplificado na vida do nosso Cristo, é o instrumento mais poderoso e eficaz para a paz e a segurança da humanidade”. (Martin Luther King Jr.)

E ao nosso General da Banda a nossa eterna gratidão. Valeu mestre!

PS: na primeira foto Francisco Adão comandando a Fanfarra do Ginásio de Recreio.

A SEMANA SANTA EM RECREIO

Lenira Rocha Peres Mercadante

Passou o Natal, o Ano Novo, o Carnaval e agora estamos nos aproximando da Semana Santa. É um período do calendário litúrgico católico marcado pela preparação, recolhimento, reflexão, jejum e penitencia.

Mortas pelo passado e vivas no coração. Ainda guardo com carinho as lembranças das semanas santas da minha infância. As celebrações eram realizadas em Latim de acordo com os rituais em vigor antes do Concílio Vaticano II (1962). As cerimônias eram conduzidas em latim. Nas igrejas cobriam-se as imagens dos santos com um pano roxo. O roxo para nós estava ligado ao luto. Na sexta-feira da Paixão as rádios só tocavam música clássica, muitas pessoas não varriam as casas, guardavam o silêncio e faziam jejum. O clima sagrado tomava conta da cidade.

A Procissão do Encontro entre o Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores era um momento muito esperado. Na terça-feira os homens saiam da Capela dos Machados com a imagem de Nosso Senhor dos Passos e as mulheres da Matriz com Nossa Senhora das Dores. Acontecia então o doloroso encontro entre a Mãe e o Filho na praça em frente ao G.E. Olavo Bilac. O padre proclamava o célebre Sermão das Sete Palavras, que na verdade são sete frases:

1ª- Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.
2ª - Hoje estarás comigo no paraíso.
3ª - Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe.
4ª - Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?!
5ª - Tenho sede.
6ª - Tudo está consumado.
7ª - Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.

O povo ouvia emocionado o sermão. Algumas pessoas choravam.

Na sexta-feira realizava-se nas escadarias da Matriz Jesus Menino Deus, a encenação dos últimos momentos no Calvário. Fazia parte do cerimonial o canto da Verônica. O público ouvia e acompanhava atentamente num silêncio profundo o desenrolar da trama. Após a morte de Jesus ocorria o descendimento onde a imagem era retirada da cruz e dava-se início a procissão do Senhor Morto. Durante a procissão ouvia-se apenas o som da catraca e dos cânticos sagrados. No rosto dos fiéis a expressão de seriedade e tristeza. Após a procissão o esquife era colocado dentro da igreja para a cerimônia do Beijamento que se estendia noite adentro.

O encerramento da Semana Santa acontecia à meia-noite de sábado com a celebração da Missa da Ressurreição. Nesse momento a expressão de tristeza era substituída pela expressão de alegria. Os fiéis viviam o momento da alegria: Cristo ressuscitou. Terminada a Missa as pessoas se cumprimentavam desejando uma feliz páscoa.

No sábado da aleluia a criançada ficava eufórica aguardando a queima do Judas representado por um boneco de pano recheado de palha. O Judas levava pauladas e depois era queimado diante da gritaria de crianças e adultos.

Já era tradição em algumas famílias a canjica branca. Que delícia! Sem deixar de falar nos deliciosos peixes que eram preparados na sexta-feira santa.

Para nós crianças tudo era muito bonito, triste e misterioso. Em alguns momentos a fantasia se confundia com a realidade.

Para encerrar com chave-de-ouro, não poderia deixar de relatar um fato que me contaram ocorrido na última passagem do Pe. (Santo) Hygino por Recreio. Nas sextas-feiras santas nosso zeloso vigário pedia ao Joaquim do Padre, responsável pela manutenção técnica da torre, para desligar o sinal da televisão. Pedido feito, missão cumprida! E os telespectadores involuntariamente faziam sua penitência!

OBS: A nossa igreja foi construída no estilo espanhol. Talvez pelo fato do pedreiro que inciou sua construção ter sido meu avô Gregório Peres de nacionalidade espanhola.


QUEM CASA QUER CASA

Lenira Rocha Peres Mercadante

(Da esquerda para a direita: Antonio Britto, Alvaro Marques, Sebastiãozinho do Araújo e Lenira Rocha Peres)

A peça Quem Casa Quer Casa foi escrita em 1845 por Martins Pena. O enredo se desenrola na cidade do Rio de Janeiro. Tem apenas um ato e os personagens eram: Nicolau, marido de Fabiana, mãe de Olaia e Sabino. Anselmo , pai de Eduardo, irmão de Paulina, dois meninos e um homem. É uma comédia que mostra o dia a dia de uma família onde os genros com os filhos moram na mesma casa com os sogros. As reclamações e a luta pelo poder levavam a platéia ao delírio.

No ano de 1962 alguns alunos do Ginásio de Recreio decidiram formar um grupo de teatro. A peça de maior sucesso foi uma adaptação da obra de Martins Pena Quem casa quer casa. Participaram do elenco: Raquel Tomasco, Pedro Paulo do Daé, Lenira, Zilma, Antonio Britto, Henrique, Sebastiãozinho Araújo e Álvaro Marques

O encontro do grupo para os ensaios era muito divertido. Havia um bom entrosamento e um grande interesse pelo teatro, o que, de certa forma, contribuiu para o grande sucesso da peça e das apresentações do grupo.

A primeira apresentação foi na antiga sede do Recreio Esporte Clube. Depois Abaiba, Laranjal, Volta Grande, Leopoldina e Conceição. A propaganda era feita usando uma tabuleta com fotografias de cenas da peça que ficava apoiada na parede externa do local onde ocorreria a apresentação.

Durante a encenação percebia-se uma empatia muito grande da platéia com os personagens. As pessoas vibravam , riam, gritavam, sapateavam, principalmente nas cenas de brigas e discussões. É importante deixar registrado para a posteridade que alguns tapas nada tiveram de teatrais. Doeram mesmo. Eu mesma levei uns que me deixaram furiosa. Não perdia tempo, levantava e com o rosto avermelhado distribuía tapas em quem estivesse na minha frente. Era uma delícia. A platéia delirava.

Depois da apresentação como era divertido lembrarmos quem apanhou e bateu mais.

Antes da apresentação da peça fazia-se uma encenação tendo como elenco Careca e Dílson. Para o público estava apenas acontecendo a limpeza do palco. Cenário: um balde cheio de água, outro cheio de pétulas de rosas que ficava escondido da platéia, vassoura e pano de chão. Careca, meu irmão, passava o pano molhado no assoalho. Dílson provocava-o chamando-o de preguiçoso e incompetente. Os dois quase saiam no tapa. As agressões verbais ganhavam intensidade passando para o público a idéia de que a discussão era verdadeira e de que não se tratava de uma encenação. Dílson saia e Careca continuava resmungando limpando o chão. Iniciava um diálogo com a platéia reclamando. A reação de risos deixava-o enfurecido. Saía de cena e num canto trocava o balde de água pelo de flores. Como eram iguais o público não percebia diferença. Voltava ao palco e começava a discutir com a platéia ameaçando jogar a “água”. Era uma correria danada. Algumas pessoas levantavam-se e iam para o fundo do teatro. O momento ganhava intensidade. Até que Careca pegava o balde e atirava o seu conteúdo na platéia: em vez de água pétulas de rosas. A reação inicial era de susto que se transformava numa fração de minutos em risos e calorosos aplausos. A cena era tão real que numa apresentação em Volta Grande um homem que estava na platéia resolveu chamar a polícia para separar a briga. Foi preciso o José Britto explicar ao policial que se tratava de uma encenação.

Foram bons momentos. Divertíamos e levávamos alegria para as pessoas. Só podemos dizer que fizemos sucesso.

Quem Casa Quer Casa

“Quem casa quer casa”, texto de Martins Pena (1845), foi a primeira montagem do Grupo Theatrum, estreada em 1990.

É uma comédia curta, rápida, que trata das relações familiares salpicadas de críticas aos costumes vigentes na época. Não se propõe a grandes análises. É uma visão irônica, divertida e jovial desta instituição sempre tão conturbada que é a família.

Quem casa quer casa”, texto de Martins Pena (1845), foi a primeira montagem do Grupo Theatrum, estreada em 1990.

30 DE ABRIL DIA DO FERROVIÁRIO



Em julho de 1877 foi inaugurada a estação ferroviária de Recreio. A primeira tentativa realizada para a construção de estradas de ferro no Brasil foi de iniciativa do regente Diogo Antônio Feijó e do titular da pasta do Império, Antônio Paulino Limpo de Abreu. Esse intento ficou demonstrado no texto dos decretos nº 101, de 31 de outubro de 1835, no qual de acordo com seu artigo 1º, “o governo fica autorizado a conceder a uma ou mais companhias, que fizerem uma estrade de ferro da Capital do Rio de Janeiro para as de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, carta de privilégio exclusivo por espaço de 40 anos para uso de carros para transporte de gêneros e passageiros.

A tranquilidade política só chegaria em princípios da década de 1850, com todas as Províncias pacificadas, ingressando o Império na sua fase mais expressiva de realizações materiais. Foi nessa época, exatamente, que o Barão de Mauá, com seus próprios recursos e incentivos de Dom Pedro II, se arriscou a construir o primeiro trecho ferroviário entregue ao tráfego no Brasil.

Depois de Teófilo Otoni, o homem de maior pertinência empresarial do Segundo Reinado era Irineu Evagenlista de Souza, Barão de Mauá. Enquanto o primeiro tentou abrir para Minas Gerais um acesso fluvial ao litoral, o outro conseguiu concluir a ligação entre Porto Mauá e Raiz da Serra, inaugurando o trecho ferroviário pioneiro do Brasil, com 16 km de extensão, em 30 de abril de 1854. Daí, não tenho certeza, o 30 de abril teria sido escolhido para comemorar o dia do ferroviário

Data do ano de 1873, os primeiros trabalhos da contrução da Leopoldina em Porto Novo. Inaugurado no ano de 1874 o primeiro trecho, de Porto Novo a Volta Grande, a linha tronco, com o ramal de Leopoldina, foi aberta ao tráfego, em 1877, até a cidade de Cataguases.

Em 1883, a Estrada de Ferro Leopoldina adquiriu as linhas de Pirapetinga (Volta Grande a Pirapetinga); e a do Alto Muriaé (de Recreio a Palma). A Leopoldina, prolongou a linha do Alto Muriaé até Santa Luzia (atual Carangola), onde chegou no ano de 1877.

Ao mesmo tempo que era construído o ramal que ia a cidade de Muriaé (Patrocínio a Muriaé). E mais tarde, no ano de 1891, o que liga a mesma linha do Alto Muriaé a Santo Antônio de Pádua (ramal de Cisneiros a Paraoquena), no estado do Rio de Janeiro.

Em 1870, vários engenheiros exploravam o traçado do ramal ferroviário entre Porto Novo e Cataguases, procurando conduzir sua direção de modo que atingisse o povoado de Conceição da Boa Vista, mas forma impedidos de continuar seus trabalhos pelos proprietários da Fazenda São Mateus.

Devido a isto, os Srs. Francisco Ferreira Brito Neto e Inácio Ferreira Brito, proprietários da Fazenda Laranjeiras, ofereceram aos engenheiros, as passagem da futura ferrovia por suas terras. E, estando o terreno nas devidas condições técnicas, o traçado foi alterado.

Na medida em que eram construídos os trechos, eram inauguradas as estações. A estação de Recreio foi inaugurada em julho de 1877; a de São Joaquim(atual Angaturama), no dia 26 de abril de 1883; a de Tapirussú (atual Cisneiros), no dia 11 de maio de 1883; e finalmente São Francisco de Assis do Capivara (Palma) no dia 09 de junho de 1883.

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Deixando de lado a história, sinto orgulho em ter nascido numa família de ferroviários. Sou filho, neto, sobrinho e primo de ferroviários. Meu pai foi chefe da estação de Recreio, onde se aposentou em 1970.

Costumo dizer que quando você encontra ferroviários aposentados conversando o assunto é sempre, dentre outros, The Leopoldina Railway Company.

O trem faz parte da minha vida. No momento em que nasci passava o expresso vindo de Ponte Nova. Quando mudamos para o Botafogo, Rua Tenente Joaquim Pereira, nos fundos da nossa casa estava a linha férrea. Ao retornarmos para a antiga Rua Campo Limpo a linha férrea também estava lá majestosa em frente à nossa casa.

Quando vejo uma composição passando experimento uma sensação agradável , um imenso prazer. O barulho, e o cheiro característicos da composição em movimento evocam lembranças gostosas da minha infância e da época de ouro da ferrovia em Recreio. Lembro do meu pai, avô, tios e primos e de tantas outras pessoas que construíram suas famílias trabalhando na Leopoldina.

O barulho e o cheiro do trem é uma experiência muito viva em minha vida. Sinto saudades da Maria-fumaça, da volta da ferradura, do guarda-pó para nos proteger das fagulhas lançadas pela locomotiva enfurecida, das paradas na caixa d’água para matar a sede insaciável da Maria-fumaça, do som inconfundível do apito do condutor que anunciava a partida do trem e depois percorria os vagões de passageiros para perfurar e vender os bilhetes , do malabarismo do guarda-freios puxando a corda e pulando de um vagão para o outro com o trem em movimento, da estratégia do manobreiro, da simplicidade do guarda-chaves alterando o percurso do trem, da destreza do maquinista, do esforço do foguista alimentando a fornalha sempre faminta, do trabalho incansável do pessoal da Soca fazendo os reparos necessários , do fiscal de linha garantindo a segurança da viagem, dos heróis da equipe de socorro colocando na linha a máquina ou o vagão desencarrilhado, do pessoal do barracão com seus zelosos mecânicos, da turma do Control enviando e recebendo mensagens e prestando serviço à comunidade. Seus serviços internos de telegrafia, indispensáveis aos contatos entre as estações para regular os horários dos trens, estava à disposição dos usuários particulares para a transmissão de notícias, localização de pessoas, chamados médicos, trocas de informações entre autoridades e políticos em momentos de crise e fechamento de negócios urgentes”. Do pessoal do armazém, do chefe da estação com seu boné vermelho, do telegrafista lendo e executando sua partitura de pontos e linhas, do som sério/alegre/triste/enérgico/preocupado/descontraído/brincalhão do telégrafo ,do vendedor de bilhetes, do som da bilheteira, do camareiro zeloso em garantir o conforto no carro dormitório, do pessoal do escritório sempre com a caneta no bolso, do trole conduzindo o pessoal da manutenção, do automóvel de linha transportando os engenheiros, do guindaste colossal , da lanterna, do sino da estação anunciando a partida e a chegada do trem, do trem de aço, da máquina elétrica esbanjando modernidade (lembro-me de uma toda branca chamada Mulher Rendeira), do lampião de carbureto, das missas celebradas no dia 1º de maio no barracão, do cheiro do Caal usado para polir os botões dourados do dalmo, paletó usado pelo ferroviário que trabalhava na estação, e de tantos outros símbolos, objetos e acontecimentos que continuarão sempre vivos em minha vida.

Hoje quando entro na plataforma da estação de Recreio, sinto uma saudade doída. Fecho meus olhos e deixo desfilar os sons e as imagens com todo o aparato necessário para a partida do expresso que um dia se foi e nunca mais voltou. Vejo o José jornaleiro chegando no expresso com meus gibis e a Revista do Esporte. O Waldir e o Tãozinho Vicente , Comissários, trazendo com zelo e cuidado as nossas encomendas compradas no Rio de Janeiro.

No dia 30 de abril comemoramos o dia do ferroviário. A todos os ferroviários e familiares minha homenagem e gratidão. A história foi ingrata conosco. Não entenderam que o Brasil, com sua imensa extensão territorial, o transporte mais adequado e econômico seria o ferroviário. Paciência. A história não tem retorno. Mas fica a lição. Não sei se ainda há tempo. Você já imaginou, meu caro leitor, quantas Mercedes e Skanias carregadas uma composição com duas máquinas transportaria?

Existe outra interpretação. “ Com a aproximação do término dos prazos de concessão, o transporte ferroviário começou a entrar em colapso. As companhias concessionárias que usufruíram ao máximo da contribuição que as estradas de ferro deram ao esforço de guerra do Brasil e aliados, passaram a descuidar da substituição dos dormentes, empedramento das linhas, correção de variantes e da reforma periódica dos equipamentos de tração e de sinalização. Em 1945, pouco mais de 700km de linhas estavam eletrificadas (incluem-se nesse número os ramais suburbanos do Rio de Janeiro de São Paulo, da Central do Brasil, eletrificados a partir de 1937). A maior parte das locomotivas tinhas mais de 40 anos de uso e 90% delas eram movidas a vapor.

Em virtude dessa situação, os desastres tornavam-se freqüentes. Não se podia dar mais crédito aos horários de chegada dos trens. À insegurança do tráfego aliava-se a impontualidade crescente na entrega dos bens transportados. Os prejuízos dos usuários aumentavam cada vez mais, com o perecimento das mercadorias nas estações de baldeação e nos pontos de entrocamento.

Entrementes, a construção da rodovia Rio-Bahia e a montagem de caminhões no parque industrial brasileiro começaram a dinamizar o transporte em estrada de rodagem. O custo do frete era muito mais caro, mas pelo menos as entregas de mercadorias tornavam-se mais rápidas e pontuais. A concorrência rodoviária seria, nesse sentido, contingencial. Na verdade, a rodovia não competiu. Ela supriu uma deficiência que, no entendimento do cliente, chegara ao ponto máximo de insolubilidade e de estrangulamento. Foi, por conseguinte, um opção ditada pela necessidade e não pela preferência voluntária”.

LEMBRANÇAS DA FERROVIA

LEMBRANÇAS DA FERROVIA

Armando Sérgio Mercadante

“Coisa esquisita é o trem

Quando sai de uma cidade.

Pra uns ele leva alegria

Pra outros deixa saudade”.

(Luiz Vieira)

Em 1960, quando cursava a segunda série ginasial, não queria nada com os estudos. Gostava mesmo era de tocar violão, ouvir música, sair com a turma e tentar conquistar os brotinhos. Com a entrega do Boletim Final minha sorte estava decretada: REPROVADO. Em 1961 engoli seco o gosto amargo de repetir a segunda série ginasial. Com uma semana de aula recebi do José Britto, Diretor do Ginásio, a maravilhosa notícia da minha promoção para a terceira série. Fui amparado pela Lei 4.024/61 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) que suprimiu o Latim do currículo escolar, matéria em que tinha sido reprovado. Mesmo assim, como castigo papai convocou-me para ajuda-lo na estação ferroviária onde aprendi telégrafo. Trabalhava durante o dia e a noite freqüentava o ginásio. Foi a época das históricas greves dos ferroviários. Quantas vezes uma composição carregada de frangos ou bois ficava parada na plataforma da estação aguardando o término da greve. Ajudava meu pai a dar água e alimentar os pobres animais até que o trem pudesse seguir o seu destino. Como papai era Chefe da Estação não podia fazer greve.

Gostava do ambiente da estação. O movimento dos trens, o telégrafo que não parava de desenrolar sua fita com os intermináveis pontos e linhas, o barulho da bilheteira autenticando os bilhetes dos passageiros, a movimentação dos viajantes e funcionários, a chegada e partida dos trens e o sino informando a saída da composição das estações do percurso.

Recentemente li com alegria a iniciativa da Prefeitura de Recreio de colocar em funcionamento o trem de turismo Recreio/Angaturama que será puxado por uma Maria Fumaça de 1880. Será a oportunidade para os recreienses e visitantes que nunca andaram de trem experimentarem a emoção de uma viajem no tempo. E para quem já andou de trem matar a saudade da Maria Fumaça que marcava presença despejando suas fagulhas nas janelas dos vagões de passageiros. Q uem não usava o guarda-pó corria o risco de ter a roupa furada por um pedaço de carvão em chamas.

O Barracão, palco de muitas histórias e das tradicionais Missas celebrados no dia 1º de Maio em ação de graças pelo Dia do Trabalho, foi reformado e descaracterizado. Se tivesse sido tombado...


sexta-feira, 28 de setembro de 2007

COLÉGIO JOÃO XXIII UMA ESCOLA PARA A VIDA


Na fotografia da direita ( da esquerda para a direita) Nadia Forezi, Magda, Profa. Maria Regina, Prof. Armando Sérgio, Maria Eugênia e Wania Miranda.

Sentados da direita para a esquerda
de cima para baixo: Cacá, Zezé Cambatim, Rui Sérgio
Barroso Ferreira, Mauro Nei, Zazi, Toninho
da Malha, Déo, Aristides (Ted Boy Marino), Heloisa Botelho e Davizinho.

Em pé: Pe. Mauro de Queiroz e Prof. Armando
Sérgio Mercadante.
À direita alunos do colégio cantando o Hino
Nacional.

“Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis”(Mt.7,19-20). E muitos frutos bons foram entregues à comunidade.
João XXIII foi um colégio movido pelo idealismo, determinação, competência e, sobretudo, pelo amor ao ensino. A seriedade e a reflexão sobre o sentido e a finalidade da educação com base na concepção cristã do homem. A visão ecumênica e os princípios humanísticos e cristãos, lá encontraram abrigo graças à competência, seriedade e a responsabilidade de seus dirigentes, funcionários e professores.
Lecionei Lógica, Orientação Educacional, Educação Religiosa para as turmas do Curso Normal e Científico. Professor preocupado com os valores cristãos, consciente da importância de ser educador, fui mais aluno do que professor. Aprendi mais do que ensinei. Na verdade, professor não é aquele que ensina mas aquele que aprende. Este é o aspecto, aparentemente contraditório, que diferencia o educador do professor-ensinador.
Li com muita tristeza, tempos atrás, um artigo publicado num jornal de Recreio sobre o Colégio João XXIII. Escrito por um recreiense que prefiro não citar o nome, tinha apenas o claro objetivo de atacar. Dizia: que o colégio ao transferir-se para o prédio do Hospital São Sebastião, apenas levou vantagens, prejudicando o andamento das obras para o funcionamento do Hospital. A “lógica” do autor era: se o colégio não tivesse ocupado o prédio, Recreio já teria seu hospital funcionando ha muito tempo. Ora, antes de transferir-se para o hospital, os responsáveis pelo colégio realizaram obras para colocá-lo em condições, pois o prédio ainda encontrava-se “no osso”, entregue ao abandono e exposto à ação destrutiva do tempo. No período em que funcionou, conservou e deu continuidade as obras, impedindo que o tempo acabasse de destrui-lo, como aconteceu com o prédio do futuro Ginásio Estadual de Recreio, no Bairro Planalto, na época do então Prefeito Dr. José Antônio Monteiro de Barros. Essa é a verdade dos fatos. O compromisso assumido pelo Colégio João XXIII, no termo de utilização do prédio do hospital, foi cumprido e respeitado integralmente. Se o Colégio não tivesse ido para lá hoje não teríamos o Hospital funcionando.
Na época da publicação do artigo a indignação tomou conta das pessoas que lá viveram e conheciam a história. Dona Nice, revolta, pediu-me que escrevesse um artigo rebatendo as mentiras e mostrando a verdade. Achei por bem, na época, que o melhor seria ignorar. Perdão Dona Nice. Deveria ter seguido o seu conselho.
O grande dia da coleta chegou em 8 de dezembro de 1967, às 13 horas, no Cine Recreio, quando foi realizada a sessão solene de formatura dos primeiros Normalistas de Recreio. Os primeiros frutos foram entregues à comunidade: Ana Cândida Neves Guimarães, Ana Maria da Costa Malta, Anamaria Rodrigues Neto, Angela Penha Simão da Silva, Blanoires Tôrres Loureiro, Delcy Faria Duarte, Edna de Almeida Fernandes, Eleutéria Maria Machado, Gilberto Peres de Oliveira, Heloisa Helena Pimenta Simão, João Baptista de Oliveira, Leila Fonseca Magalhães, Leila Maria Vargas Ferreira, Lila Jane Lourenço Miranda, Luiza Helena Conti de Almeida, Luiz Hamilton Ferreira Vicente, Maria Amélia Martins Simão, Maria Aparecida Dias de Oliveira, Maria Arminda Salles Abreu dos Santos, Maria Assunção Rocha da Silva, Maria Auxiliadora Guilherme Ferreira, Maria Elvira da Silva Brito, Maria Izabel Andrade Merij, Maria José Ávila de Oliveira, Marly Auliadora de Araújo, Mercês Martins Simão, Nilce Aurora Loçasso de Paula, Osmir Oliveria Carvalho, Pedro Ernesto Ferreira Dorigo, Regina Maria Sabadine, Sônia Maria Teixeira de Melo, Stela Maria Muniz Panza, Tereza de Lourdes Pimenta, Vera Lúcia Teixeira de Melo, Vilmano Francisco Vieira e Wilma Loureiro Dias.
Na capa do convite de formatura, ao lado de uma árvore impressa em verde, estava escrito:
“progredir,
produzir, ir além do que se é,
elevar-se ao mais alto –
e o mundo se erguerá para Deus.”
O espírito empreendedor de seus dirigentes, o compromisso com a educação como instrumento de conscientização e libertação do homem, eram tão fortes que uma nova árvore foi plantada em Conceição Boa Vista. Em 1968, foi criado o Ginásio John Kennedy pelo Colégio João XXIII. E em 5 de dezembro de 1971, às 15 horas, no salão da Praça D. Prudêncio novos frutos foram entregues à comunidade. Receberam o Diploma de conclusão do Curso Ginasial: Angela Maria Carneiro Pimenta, Darcy Martins Oliveira, Darcy Moreira de Souza, Edgar Cruz de Freitas, Eloy Cruz de Freitas, Fernando José Vieira, José Antônio de Freitas Marquito, José Luiz Brassolino, Lucy das Graças Freitas, Manoel Antônio Marchito Fontes, Maria da Conceição Trescate e Vera Lúcia Carneiro Pimenta. No convite de formatura estava escrito: “Não pergunteis o que vosso País pode fazer por vós, mas o que vós podeis fazer por vosso País.”(J. F. G. Kennedy)
A árvore deu muitos frutos durante muitos anos até que um dia morreu. Das suas sementes novas árvores frutificaram, dando assim continuidade ao ciclo vida.
Gostaria de citar os nomes das pessoas que lá estudaram e que hoje são médicos, engenheiros, psicólogos, bioquímicos, economistas, professores, dentistas, fonoaudiólogos, empresários, técnicos e tantas outras profissões. Também gostaria de citar as pessoas que lá trabalharam contribuindo para que a “escola de vida” cumprisse com a sua missão. Mas tenho receio de cometer injustiça esquecendo nomes que tiveram, direta ou indiretamente, um papel importante nessa história tão bonita .
A história do Colégio João XXIII, do Ginásio João Kennedy e da extensão de série em Cisneiros começou no período em que Pe. Juarez Augusto e Pe. Mauro de Queiroz foram párocos em Recreio. Um período marcado por inovações profundas no campo religioso, educacional e social.
“E na verdade todos os que querem viver plenamente em Cristo Jesus padecerão perseguições.”(II Tim 3-12). E assim aconteceu.
Em dezembro de 1986 o COLÉGIO JOÃO XXIII encerrou suas atividades. 

A GRANDE MASCOTINHA


Banana, Mascotinha e Pinga-Fogo

Até os anos sessenta, parques e circos armavam suas fábricas de sonhos e fantasias no campinho, terreno localizado entre a Rua Botafogo e a Campo Limpo, hoje ocupado pela Prefeitura Municipal. A TV ainda não tinha chegado em nossa cidade. Nosso povo se divertia nos parques, circos, touradas, cinemas, futebol, festas populares e religiosas. Era a época dos circos e parques com suas atrações e personagens que encantaram toda uma geração da qual orgulhosamente faço parte. Nas minhas lembranças ainda estão vivos Pinga-Fogo, Mascotinha, Hilda Barbosa Marques, e o Parque do Banana.

Pinga-Fogo, palhaço cuja marca registrada era o nariz onde piscava uma luz para nós misteriosa e encantadora. Tão encantadora que o Timóteo, “indivíduo perverso”, assim denominado pelo seu pai o saudoso Pastor João Wendling Duarte, uma vez queimou o nariz tentando imitar o Pinga-Fogo ao colocar dentro de uma narina uma brasa apoiada sobre uma colher. Quando um circo deixava a cidade, a meninada fazia seu próprio circo no quintal de suas casas para preencher o vazio deixado e imitar seus personagens. O circo do Timóteo, por exemplo, era a alegria da garotada da Rua Tenente Joaquim Pereira, no Botafogo. Tinha mágico, malabarista, trapezista, palhaço. A lona era sempre o lençol da mamãe estendido sobre estacas de bambu.

Mascotinha era o símbolo sexual da época. Fazia nossos respeitosos varões liberarem suas fantasias sexuais. E a garotada não saia do banheiro para desespero dos pais. Seu requebrado era estonteante. Tinha um par de pernas!(que a Lenira me perdoe!). Numa de suas apresentações, um respeitável cidadão recreiense ficou tão enfeitiçado que caiu da arquibancada. Tomou conta do recinto assobios e gargalhadas. Era o sr...??? Quem souber o nome ganhará um ano de assinatura grátis do M&M Taí Aníbal um boa sugestão.

Banana com seu famoso parque de diversões passava por Recreio todos os anos. Era um parque simples mas tinha o encanto de ser o Parque do Banana. O “esta música alguém oferece para alguém como prova de muito amor e carinho”, “o rapaz de calça marron e camisa branca que se encontra ao lado da barraca das argolas oferece esta música para a jovem de vestido rosa e cabelos pretos e compridos como prova de muito amor e carinho”, anunciadas no auto-falante era um momento aguardado com ansiedade. Ao ouvir a mensagem, se a donzela estivesse interessada ia atrás do seu príncipe encantado. Muitos casamentos começaram ali.

Ao som de Anísio Silva, Alcides Gerardi, Albertinho Fortuna e Nelson Gonçalves, dentre outros, éramos felizes e sabíamos disso. A barraca do tiro ao alvo com as espingardas sempre descalibradas era um desafio para os nossos exímios atiradores. Quando alguém conseguia descobrir o macete e acertar no alvo, o calibre era sorrateiramente modificado pelo zeloso funcionário.

Hoje os Bananas, Mascotinhas e Pinga-Fogos fazem parte de uma época marcada pelo romantismo, onde pegar na mão da namorada e “roubar” o primeiro beijo exigia uma estratégia digna de um mestre do xadrez. Época em que a professora castigava o menino colocando-o sentado ao lado de uma menina na carteira dupla do Olavo Bilac. Que as meninas nos perdoem, mas era humilhante sentar ao lado de uma menina! Melhor ajoelhar nos caroços de milho.

Por falar no Olavo Bilac , é importante registrar no ano de 1962 a apresentação obrigatória da dupla Zé Dilton e Leleno do Bitão, antes do início da primeira aula, com direito a bis nos intervalos, cantando o sucesso da época Maria Chiquinha, hoje regravada por Sandi e Júnior. Zé Dilton fazia o Genaro, engrossando a voz, e Leleno a Maria Chiquinha afinando a voz . Fico com pena da dupla Sandi e Júnior!

Hoje o antigo campinho da Rua Campo Limpo só existe na saudade. Pinga-Fogo, Mascotinha e Banana fazem parte do mundo da saudade. É só deitar no sofá, fechar os olhos e deixar as imagens virem à tona.

ARLINDO PERES MARTINS

Arlindo Peres Martins.
Fotografia tirada no
Rio de Janeiro.
Careca e Lenira filhos do casal.

Fotografia tirada em 1945.





Na fotografia da direita a Ladeira Arlindo Peres em
Recreio, Minas Gerais.
Abaixo Arlindo Peres Martins ao lado de sua esposa e rodeado pelos
seus filhos.





Foi Editor do Jornal A Piroga (vide exemplar neste blog) que circulou em Recreio em 1924. Presidente do Flor da Mocidade e Alfaiate.
No governo do Prefeito Dr. Geraldo Damasceno de Almeida , a rua onde sempre residiu com seus familiares recebeu o nome de ARLINDO PERES. rua esta que liga a Ladeira Guimarães à São Joaquim. A placa foi entregue pessoalmente ao José Peres pelo Prefeito Municipal Dr. Fernando Coimbra de Almeida antes de ser fixada na rua.
Na primeira fotografia da esquerda para a direita : Maria Aparecida Peres, Arminda Peres Martins . Ana Maria Rocha Peres, Maria das Graças Rocha Peres. No primeiro plano Maria José Rocha Peres , Arlindo Peres, Anna Rocha Peres e Rosa Maria Rocha Peres.
Na segunda fotografia da esquerda para a direita: José Peres Martins, Alaor Rocha Peres, Waldir Peres Rocha (Careca) e Haroldo Peres Martins.
Transcrevo abaixo um artigo escrito pelo Herold Torres no fanize Mar de Morros, número 92, Ano 9 - 01/10 14/11 de 2007, contando um episódio da vida do Arlindo Peres.











TAMANHO NÃO É DOCUMENTO




Herold Torres




Na minha adolescência, quando eu passava em frente ao Bar Oriente, notei várias pessoas aglomeradas na porta do prédio olhando para o seu interior. Despertou em mim a curiosidade e fui checar.




Pra minha surpresa vi um homem de seus um metro e oitenta e cinco, mais ou menos, de altura, com uns cem quilos presumíveis, completamente nu. Era um guarda-roupa. Tratava-se do padeiro Tatão Melido. Seu pão não era lá grandes coisas, mas as suas rosquinhas eram uma delícia.




Tatão vivia na obscuridade. Era uma raridade vê-lo, mas quando tirava o dia para beber, tornava-se um homem impossível, agressivo, chato, provocante. Comprava briga com qualquer um e a encarava. Dava medo.




O dono do Bar Oriente e o garçom insistiam para que ele vestisse a roupa e ele relutava e, cada vez mais agressivo, amedrontava a todos.




De repente, sai de uma alfaiataria de propriedade do Sr. Jarbas – que ficava ao lado do bar - , um homenzinho dentro de seus um metro e sessenta de altura aproximadamente, trajando calças com suspensórios e camisa de mangas compridas arregaçadas. Trava-se do Sr. Arlindo Peres que, ao deparar com aquela cena, apanhou lentamente a calça, a camisa e cueca do dito cujo, levando toda aquela tralha até o peito do Tatão, dizendo:




- Cria vergonha nesta cara e vista esta roupa agora!




Tatão encarou o Sr. Arlindo, olhou para os espectadores, tornou a encara-lo, enquanto o Sr. Arlindo mantinha as roupas à altura do peito.




Pensei: ele vai dar um sopapo no Seu Arlindo que, pegar de jeito, vai mata-lo.




Um encarava o outro enquanto o silêncio era a expectativa do momento.




E o Sr. Arlindo repetiu:




- Cria vergonha nesta cara, vagabundo, e vista esta roupa agora! Antes que eu a esfregue nesta sua cara de sem vergonha!




Tatão, diante da voz firme e enérgica do Sr. Arlindo, não teve outra alternativa senão vesti-la.




Assim que vestiu a roupa, saiu lentamente em direção à porta, enquanto as pessoas abriam um clarão para sua passagem.




Aí, começaram a formar bolinhos com comentários cuja tônica era: tanto homem grande e nenhum teve a coragem de enfrentar o Tatão; foi um baixinho que o enfrentou sem teme-lo em momento algum sequer e, ainda por cima, colocando-o a caminho de casa.




Há dias venho recordando este acontecimento que lá vai pra um sessenta anos. Cheguei à conclusão de que o Sr. Arlindo Peres teve aquela autoridade sobre o Tatão porque era um homem trabalhador, um pai de família exemplar e de uma retidão de caráter invejável. Gente muito bem quista na sociedade. Era de fato um de estatura baixa, mas de grande personalidade. Soube criar sua prole, onde todos são gente de bem.




Me orgulho muito de ser amigo de todos os seus filhos e em especial do meu saudoso colega e amigo Alaor.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

DADOS BIOGRÁFICOS DE ARMANDO MERCADANTE

(Da esquerda para a direita: Armando Mercadante,sua esposa, sogros e filhos)

Armando Mercadante, filho de Francisco Mercadante Jr. e Rosa Russo Mercadante, ambos italianos, era neto de Ferdinando Mercadante. Nasceu em Pirapetinga, Minas Gerais, no dia 28 de julho de 1916 e faleceu, aos 57 anos de idade, em Santo Antônio de Pádua (RJ), em 28 de julho de 1973. Coincidentemente no dia do seu aniversário!

Era o caçula de uma família formada por dez irmãos: Francisco, Antônio, Deodosio, Walter, Miguel, Humberto, Carmelinda, Rosa. Hercília e Edith(única viva).

Passou sua infância e juventude em Pirapetinga, sua terra natal. Fez o curso primário no Grupo Escolar “Cel. Ribeiro dos Reis”. Em 1933, com 17 anos, entrou para a Estrada de Ferro Leopoldina, como telegrafista conferente, aposentando-se em 1970, como chefe de estação, na cidade de Recreio, Minas Gerais.

Segundo sua irmã Edith “foi um menino muito querido pelos pais de seus amiguinhos de infância. Foi uma criança dócil, educada e obediente. Muito mimado pelos irmãos. Ajudou muito a nossa Banda de Música. Nunca se meteu em bares. Seus amigos eram selecionados. Seu vício era o cinema. O nosso cinema funcionava três vezes por semana. Nas noites que não havia sessão, ele passavas as horas em casa de sua madrinha onde permanecia por lá até as 9 horas da noite. Deixava o serviço da Leopoldina às 5 horas da tarde. Tomava seu banho e após o jantar ia juntar-se aos seus amigos na nossa praça. Quanto ao cinema, nunca pagou ingresso, pois era considerado como filho pelos seus proprietários. Quando faltava funcionário, ele ia para a bilheteria vender ingressos para ajudar a dona do cinema. Muito honesto, nunca cometeu um ato que desabonasse sua moral e cumpridor dos seus deveres”.

Entrou para a Estrada de Ferro Leopoldina em Pirapetinga no dia 02 de dezembro de 1933 na função de Auxiliar de 4ª classe e aposentou-se em Recreio como chefe de estação (boné vermelho) no di 31 de janeiro de 1970.

Papai casou-se em 27 de julho de 1947 com a jovem Dirce Coutinho Araújo, natural de Providência (MG), nascida em 29 de novembro de 1922, hoje com 79 anos, que passou a denominar-se Dirce Araujo Mercadante. Tiveram três filhos: Armando Sérgio, Regina Célia e Carlos Alexandre.

Viveu para a família e o trabalho. Era um homem caseiro. Suas únicas paixões foram o teatro, o cinema e a maçonaria. Quando um filho adoecia entrava quase em desespero.

Quando eu estava com 13 anos, cursando a 2ª série ginasial, como não queria nada com os estudos, papai aplicou-me o seguinte castigo: de manhã e à tarde na estação ferroviária para aprender telégrafo e ajudá-lo em tarefas simples; à noite, estudar no ginásio. O castigo (bendito castigo!) foi aplicado de forma serena e enérgica.

Papai gostava de teatro. Embora tenha cursado apenas o Curso Primário, tinha o dom da palavra: gostava de fazer discursos. Era um excelente orador. Fez parte do Teatro de Amadores de Pirapetinga e de Recreio, tendo desempenhado seus papéis com muita naturalidade e eloqüência. Possuía uma bela voz, cantou várias vezes no mesmo, sendo muito aplaudido. A música de sua preferência era o Fox-trot. Fez parte, também, do grupo de teatro amador da cidade de Recreio. Suas apresentações eram sempre elogiadas pelo público. Tive a honra de trabalhar com ele numa peça no ano de 1968. Jamais me esqueci de sua apresentação. Fez o papel de promotor de justiça. Até hoje lembro-me de sua fala inicial: “É mais que um assassino. É um bárbaro. Aos que matam por ciúmes. Aos que tiram a vida de seu semelhante(...)”. Nesta peça trabalharam: Careca, Ranulfo, Rufina, Neida, Roosevel, Armando Sérgio e Armando Mercadante.

No trabalho na Estrada de Ferro Leopoldina, na cidade de Recreio, destacou-se pela eficiência, lealdade, seriedade, senso de justiça, responsabilidade e honestidade. Aposentou-se como chefe de estação.

Em 1965 assumiu a Presidência do Setor Local da CNEG (Campanha Nacional de Educandários Gratuitos), entidade mantenedora do Colégio de Recreio, hoje denominada CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade). Construiu com muita luta e determinação o prédio onde funcionou o Colégio de Recreio. Foi uma dura batalha para angariar recursos: rifas, festas,visitas a políticos, dentre outras atividades. Foi incansável e determinado na sua luta. Para terminar a construção do prédio fez um empréstimo em seu nome no Banco Hipotecário e Agrícola, hoje Itaú. Como garantia hipotecou suas três casas. Fato este que não mereceu reconhecimento público. O pagamento do empréstimo seria feito com verba a ser enviada pela CNEC de Brasília.

Em 01 de julho de 1973 internou-se numa Clínica em Santo Antônio de Pádua (RJ) para retirar uma úlcera do estômago. Adquiriu hepatite numa transfusão de sangue. Durante sua hospitalização viveu a experiência do desespero: a verba prometida para pagar o empréstimo e liberar suas casas ainda não tinha chegado. Três dias antes do seu falecimento recebeu do Sr. Elmo Justo a notícia da chegada do dinheiro. Meu pai pôde morrer em paz. Sua missão estava cumprida.

Armando Mercadante era ferroviário, maçom da Grande Loja. Amava a Maçonaria. Foi Venerável e, mais tarde, Orador, cargo que desempenhou com sua eloqüência costumeira. Todo ano, no dia 21 de abril, viajava para Ouro Preto como representante da Loja Maçônica de Recreio para as festividades promovidas pelo Governo de Minas Gerais. Nesta data ocorre a transferência simbólica da sede do governo para Ouro Preto.

Quantos sabem desta história? Ainda não temos o Museu da Memória de Recreio!

Lamento que até hoje as autoridades municipais de Recreio não reconheceram o trabalho feito por um filho de Pirapetinga que adotou Recreio como sua terra do coração.